Page 32 - Revista EAA - Edição 84
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PONTO DE VISTA
Diesel Sapiens
Em 9 de agosto de 1898, Rudolf Diesel registra a patente nº 608.845 de
um motor de combustão interna nomeado “O Motor Diesel”. Uma incrível
e eficiente máquina térmica, de ignição por compressão. O motor Diesel,
de domínio quase exclusivo da engenharia mecânica, amadurece durante a
segunda revolução industrial e se consolida para veículos de transporte pesados.
Já centenário, surge na Europa na década de 1990, a primeira
regulamentação para controle de poluentes resultantes de sua combustão.
A norma Euro I foi introduzida em 1992, seguida da norma Euro II em
1996. Tais normas regulamentavam limites de poluentes como NOx, CO
e material particulado.
Em 1998, a norma Euro III entra em vigor. É a vez de a engenharia
elétrica e a eletrônica entrarem na história. O motor Diesel é integrado a uma
rede de comunicação de dados, unidades de controle, sensores e atuadores
João Duarte é engenheiro eletrônicos – entramos na era da indústria 3.0.
mecânico, gerente na engenharia A evolução continua, quando em 2005 avançamos para a fase Euro IV, e
de Powertrain da Volvo e possui em 2008 para Euro V. Junto dessas normas, foram introduzidos requisitos
mais de 16 anos de experiência de durabilidade e diagnóstico a bordo (OBD) para monitoramento dos
na indústria automobilística. poluentes ao longo da vida do motor Diesel. A engenharia química se
Em 2019 gerenciou o 16º Fórum torna protagonista. A estequiometria se faz essencial. Um novo sistema de
SAE BRASIL de Tecnologias pós-tratamento de gases (SCR) é capaz de converter poluentes nocivos em
Diesel e Alternativas para Veículos inofensivos, e caem os níveis de emissão de poluentes.
Comerciais e Fora de Estrada Há ainda o desafio do OBD. A eletrônica avança, e um novo sistema
de monitoramento consegue agora diagnosticar em tempo real a saúde
do motor Diesel.
Vamos além. Do asfalto para as nuvens. A engenharia de telecomunicações
deixa sua marca. Os dados que trafegam nas redes de comunicação são
transmitidos via telemática pelas redes 4G. O motor Diesel entra
Nós, os na era da indústria 4.0 – estamos conectados.
engenheiros, Em 2013, os limites se estreitam desafiando as leis da física
somos os e as ponderais: a norma Euro VI. A indústria química se
responsáveis por reinventa. Novos componentes são desenvolvidos e agregados
esse resultado ao sistema da fase Euro V. Entramos na era da engenharia
e devemos colaborativa: profissionais das áreas de mecânica, materiais,
nos orgulhar elétrica, eletrônica, mecatrônica, automação, telecomunicações,
do legado que software, química e computação trabalham juntos nesta
estamos deixando máquina. Neste multiculturalismo tecnológico, controle torna-se
prioridade. Protocolos de comunicação permitem o tráfego de
dados instantaneamente, integrando todos os sistemas. Os níveis
de emissão de poluentes são 98% menores se comparados aos de 1992.
Dados transmitidos na década anterior criam uma nova relação: o motor
Diesel e o big data. É a era do machine learning, da inteligência artificial,
dos engenheiros da geração Z.
Chego à conclusão de que essa história não é sobre tecnologia, e sim sobre
pessoas. As pessoas estão no centro de tudo que fazemos. Nós, os engenheiros,
somos os grandes responsáveis por todo esse resultado e devemos nos orgulhar
desse legado que deixamos para o mundo.
32 outubro/novembro/dezembro

