Page 66 - Revista EAA - Edição 60
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PONTO DE VISTA
Competitividade,
eis a questão
A indústria automobilística brasileira apresenta números de saltar os olhos. Empregando
cerca de 1,5 milhão de pessoas nas suas 61 unidades industriais espalhadas em mais de
10 estados, este setor tem capacidade para produzir até 4 milhões e meio de veículos por
ano, sendo responsável por aproximadamente 21% do PIB industrial do Brasil. Em 2013
faturou acima de US$ 100 bilhões e antecipa investimentos importantes na construção
de novas fábricas para os próximos anos.
Na contrapartida destes números, muito se tem falado da falta de competitividade e
da baixa produtividade da indústria automobilística, o que tem reduzido o potencial de
exportação, direcionando os maiores volumes de produção ao mercado interno. Podemos
contar nos dedos os fatores que incomodam esta indústria. O aumento da folha de pa-
gamento ano após ano a taxas muito acima da inflação, o aumento de custos da matéria-
-prima, a carga tributária, a variação cambial e os custos logísticos têm sido citados como
os principais problemas enfrentados pelo setor.
Procurando manter o nível industrial em patamares altos e, em consequência, o nível
JORGE MARQUESINI é vice- de emprego, o governo tem tomado várias iniciativas, seja por meio de redução de impos-
presidente de Cabines e Veículos tos, taxas de financiamento mais atraentes ou programas mais abrangentes, sustentando
do Grupo Volvo América Latina
os volumes de produção. Estas ações, apesar de importantes, não parecem ser de longo
e diretor da seção Paraná e Santa
prazo, já que ao menor sinal de redução destes incentivos novos incômodos começam a
Catarina da SAE BRASIL
se instalar.
A indústria, por sua vez, tem procurado enfrentar o problema por meio de investi-
mentos em processos mais automatizados e mais modernos, menos dependentes de mão
de obra direta e com maior eficiência, a partir da implantação de novos conceitos logís-
ticos, aproximando os principais fornecedores das linhas de montagem final, buscando
locais onde o valor da folha de pagamento possa ser menor ou que benefícios possam
PROCURANDO MANTER ser concedidos pelos estados. Estas ações seguramente contribuem positivamente para a
O NÍVEL INDUSTRIAL EM difícil equação, mas ainda não são suficientes.
PATAMARES ALTOS E, A questão é que uma grande parcela dos custos de produção é preenchida pelo des-
EM CONSEQUÊNCIA, O perdício gerado nos processos e muitas vezes pelo baixo valor agregado. Embora a manu-
NÍVEL DE EMPREGO, O fatura enxuta seja amplamente utilizada, ainda reside muito no âmbito fabril, com pouca
GOVERNO TEM TOMADO aderência pelas demais áreas da empresa e pouco suporte da alta administração. Quando
VÁRIAS INICIATIVAS os conceitos e ferramentas da manufatura enxuta são aplicados nos processos desde a
logística inbound até a produção e distribuição, assim como nos processos de suporte, os
níveis de desperdício encontrados são significativos. As ações que levam à eliminação dos
desperdícios e aumento de valor agregado na maioria das vezes não requerem grandes
investimentos, mas novas formas de se trabalhar.
Se além das ações promovidas pelo governo e das ações de investimentos e reenge-
nharia propostas pelas empresas pudéssemos fomentar o debate sobre os benefícios da
manufatura enxuta e consequente eliminação dos desperdícios, fazendo com que o con-
ceito permeasse todas as fases dos processos, certamente tornaríamos a nossa indústria
mais produtiva e competitiva, e de forma sustentável. Longe de sugerir que esta seja a
única receita para resolver o problema por completo, ela pode seguramente ser um longo
caminho a se percorrer na jornada pelo alto desempenho da indústria brasileira.
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