Page 66 - Revista EAA - Edição 66
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PONTO DE VISTA
A Engenharia em
tempos de crise
Estamos atravessando uma crise que há muito não se via no Brasil. O segmento de
veículos comerciais apresentou queda de vendas de 20,7% no primeiro semestre de
2015. Em relação ao ano anterior, 344 mil veículos deixaram de ser comercializados.
Um dos carros-chefes da economia brasileira, a indústria automobilística, foi desace-
lerado fortemente. O trânsito da estrada econômica congestionou e gerou uma onda
de compressão que está sufocando pessoas e empresas.
Na sua nobre missão de transformar os conhecimentos científicos em soluções
que a humanidade necessita para sua vida diária, a engenharia tem muito a colaborar
na área de simplificação de produtos e redução de custos e deve dar a sua contribuição
para que possamos acelerar novamente e diminuir esse congestionamento econômico.
Em momentos de crise, o papel da engenharia como solucionador de problemas
precisa ser incentivado e instigado. Muito se discute sobre eficiência de processos pro-
dutivos, de logística, de malha viária e outros, mas nem tanto sobre o produto em si.
Aquele papel do engenheiro, o real construtor de produtos, está sendo, por vezes,
GILBERTO LEAL é físico e consultor. deixado nas mãos de poucos mentores criativos das grandes multinacionais nos seus
Colabora com a comissão locais de origem. Não raro temos como consequências produtos globais com desem-
organizadora do 12º Fórum
penho ruim em aplicações locais. Pior ainda, são caros.
SAE BRASIL de Tecnologia
Esses produtos contribuem para o agravamento da situação atual e, muitas vezes,
de Motores Diesel
precisam ser rapidamente otimizados para o uso local. A engenharia tem muito a
fazer aqui e é hora de agir e apresentar soluções inteligentes.
A experiência nos ensina que alterações em produtos globais demandam mais
tempo de discussão e convencimento que de real implantação. Aqui, o papel do en-
genheiro construtor é fundamental para o embasamento das soluções inteligentes,
eficientes e sustentáveis.
Muitos dos altos custos que vivenciamos na vida real são oriundos de conceitos
tradicionalistas ou especificações globalizadas que não se adéquam aos recursos e pro-
dução local. A chave do sucesso para sair dessa situação é conhecida. Há que se parar,
analisar, repensar e, se necessário, recriar o objeto de estudo.
É HORA DE PARAR, O grande indicador de partida é o custo do produto. Sua análise sistêmica com o
OLHAR, E PERGUNTAR devido questionamento das funções a serem desempenhadas, das transformações que
O QUE PODEMOS os recursos disponibilizados sofrerão, do tempo e investimentos de implementação,
FAZER MELHOR E decretarão sua vida saudável ou sua morte prematura.
MAIS BARATO É hora de parar, olhar, e perguntar o que podemos fazer melhor e mais barato.
Onde podemos aumentar a eficiência de fabricação e de uso do produto? Como fazê-
-lo mais atrativo e funcional?
Certamente a engenharia encontrará respostas com base na ciência e na razão. As
aplicará e, como consequência, terá o sentimento gratificante da evolução da técnica,
juntamente com a emoção de poder ter feito algo melhor para a sociedade.
É hora de agir, de buscar a eficiência e o baixo custo. A Engenharia deve rede-
senhar o futuro de nossos produtos, ajudando a garantir a sobrevivência do parque
industrial brasileiro.
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