Page 82 - Revista EAA - Edição 67
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PONTO DE VISTA




                                             Ferrovia, mudança



                                             de postura e imagem






                                             Frequentemente, ouvimos nos meios de comunicação estudos feitos tanto
                                             por parte dos governos estadual e federal quanto pela iniciativa privada a
                                             respeito da importância e necessidade da ferrovia para o crescimento do
                                             Brasil, por ser um meio de transporte eficiente e de custo mais atraente que
                                             o modal rodoviário. E por que as políticas não saem do papel, apesar de sua
                                             lógica? Além das indagações políticas, as quais não gostaria de citar por não
                                             estar envolvido com esse universo nem sempre sadio, existem as questões
                                             da imagem real da ferrovia.
                                                Desde o final dos anos 1950, quando nos foi impingida uma imagem
                                             – fictícia – de que era possível desenvolver em 5 anos o que normalmente
                                             levaríamos 50 anos para consolidar, a imagem da ferrovia no Brasil passou
                                             a ser ligada ao passado. Propagandas foram e ainda vêm sendo feitas no
                                             sentido de mostrar que nossas estradas de ferro são ligadas à ineficiência
                                             e ao abandono quando, ao contrário, muito trabalho vem sendo feito para
                   PAULO MAURICIO C. FURTADO   que tenham uma produtividade próxima até das ferrovias americanas, nosso
               ROSA  é diretor de Engenharia da
                                             grande modelo. Principalmente com a privatização, as novas empresas
               Amsted Rail Brasil e coordenador
                do Comitê Técnico de Tecnologia   vêm investindo no aumento da capacidade transportada, no crescimento
                   Ferroviária – SAE BRASIL    da frota e na redução de acidentes. Entretanto, aquilo que é levado à
                                             população pela mídia não corresponde a tanto esforço despendido.
                                                Reportagens televisivas insistem em mostrar vagões e locomotivas
                                             abandonados nos pátios como exemplo de descaso, quando esse material
                                             devolvido ao governo, após as concessões por total falta de condição de
                                             uso, está há muito tempo esquecido nesses locais em vez de ser recolhido
                                             e sucateado. Nossa indústria de material ferroviário, altamente capacitada
                                             tecnicamente, vem trabalhando para atender às demandas muitas vezes
                                             cíclicas, sofrendo, como todo o segmento, pela falta sistemática de políticas
                                             de renovação de frota, que sempre empaca nos gabinetes de Brasília apesar
                           QUE PAREMOS       de todas as provas de que ela é uma iniciativa viável e que poderia resultar
                        DE DESPERDIÇAR       em trabalho de substituição de 40% da frota recebida da RFFSA e Fepasa.
                                 NOSSOS      Empregos seriam gerados, a economia movimentada, os custos reduzidos,
                           RECURSOS EM       mas... Pouca ou nenhuma justificativa consistente há.
                               SOLUÇÕES         O Brasil perdeu o endereço de suas ferrovias!!! Pois bem, que
                              PALIATIVAS     paremos de desperdiçar nossos recursos em soluções paliativas; de
                                             insistir com investimentos apenas no que parece imediato e sem um
                                             plano de longo prazo para o país. Não suportaremos por muito mais
                                             tempo a falta de políticas verdadeiras que nos tragam um caminho
                                             claro de desenvolvimento, e para isso precisaremos encarar o fato de
                                             que estamos trabalhando na contramão da lógica, repetindo soluções
                                             ultrapassadas e populistas.
                                                Não somos mais um país do futuro. Temos que decidir nossa vida
                                             agora! E com ferrovias!
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