Page 34 - Revista EAA - Edição 70
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PONTO DE VISTA
Impactos dos veículos
autônomos na sociedade
Muito se tem falado e escrito sobre a tecnologia que permite um veículo trafegar
em vias públicas sem motorista. Para aqueles que vivem nas grandes cidades presos
em congestionamentos intermináveis, o Veículo Autônomo (VA) é visto como um
sonho de consumo. Entretanto, não quero aqui discutir a parte tecnológica, mas sim
os impactos positivos e negativos dessa tecnologia e, principalmente, o quão distante
ainda estamos de uma solução.
Comecemos pelos impactos positivos. Teremos uma grande redução do número
de acidentes de trânsito, visto que em mais de 90% deles o motorista é o culpado.
Imperícia, descuido, direção irresponsável seriam eliminados. O trânsito nas cidades
também seria mais organizado e fluido conforme o fluxo e teria menor latência no
tempo de semáforos e de reação durante as paradas e acelerações. A estrutura do
transporte público também teria impactos, uma vez que os VAs trafegariam de porta a
porta, e um sistema de gerenciamento na nuvem organizaria a mobilidade na cidade.
Os benefícios são inúmeros tais como: pela redução do número de
estacionamentos haveria um aumento do espaço urbano, nos imóveis residenciais
Prof. Dr. Edson Kitani e comerciais e redução da poluição. Uma frota de caminhões trafegaria dia e noite,
parando apenas para abastecer. Isso traria uma economia no frete e no preço final
é Professor Associado da Fatec Santo
dos produtos.
André e Coordenador Pedagógico do
Os impactos negativos seriam: redução ou eliminação da profissão de motorista,
Projeto de Veículos Autônomos
consequências nos negócios das seguradoras, redução do contingente de suporte
ao trânsito, bombeiros, sistema de saúde e até mesmo nos fabricantes, que teriam
uma redução na venda de veículos, já que o modelo de propriedade migraria para
o modelo de mobilidade. Haveria redução nos tributos e multas arrecadados pelas
cidades, teríamos um gasto maior na adaptação da infraestrutura urbana para os VAs.
Teremos ainda que adaptar a legislação de trânsito, definir responsabilidades em
caso de acidentes, e adaptar a transição do período onde teremos os VAs trafegando
juntamente com veículos convencionais.
Os estudos indicam que teremos uma frota significativa de VAs circulando no
mundo a partir de 2025. EUA, Europa e Ásia estão trabalhando com essa meta.
Governos estão discutindo com a sociedade como se adaptar a esse novo cenário. As
Os estudos indicam universidades, fabricantes, sistemistas e, até mesmo novos players (Google, Uber, Baidu,
que teremos uma Apple, Samsung), estão buscando soluções para esse novo mercado. Então cabe a
frota significativa pergunta: Como o Brasil está se preparando para essa nova onda tecnológica que se
de VAs circulando aproxima rapidamente? Será que ficaremos novamente reféns da tecnologia externa?
Cabe lembrar que em vários momentos na história perdemos as oportunidades
no mundo a de formar um mercado interno forte com produtos de alto valor agregado. Nós da
partir de 2025 Fatec Santo André, juntamente com os pesquisadores do Laboratório de Robótica
Móvel do ICMC da USP São Carlos, temos debatido os impactos acima porque
entendemos que esse será o futuro. A questão é de que forma nos adaptaremos a ele.
Também posso citar a Prefeitura de Santo André, que nos fez uma proposta para
realização de testes na cidade. A ideia é tornar Santo André a primeira cidade a ser
considerada Driverless Car Friendly City na América Latina. Outro projeto da Fatec
Santo André visa disponibilizar um veículo elétrico autônomo para transitar na
minicidade, existente dentro do Parque Sabina, para ensinar as crianças como poderá
ser o futuro com um sistema de mobilidade autônoma e mais segura.
Portanto, reforço que ainda temos tempo para iniciar os debates de uma forma
mais ampla e pública e preparar a nossa sociedade para esse novo cenário, buscando
oportunidades e adaptações para as condições brasileiras.
34 abril/maio/junho