Page 25 - Revista EAA - Edição 101
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o longo da evolução da economia, a sociedade humana
                vem utilizando o carbono fóssil como fonte de energia.
           AAbundante na natureza, através do processo de decom-
           posição da matéria que aconteceu há milhões de anos, os com-
           bustíveis à base de petróleo são fonte acessível de energia. O
           carbono também está presente de forma abundante nas árvores
           que cobrem (ou cobriam) a superfície do planeta, sua extração
           levou ao desmatamento em massa em todos os continentes ao
           longo dos últimos séculos. Mas essa energia que o carbono dis-
           ponibiliza trouxe uma consequência grave para a atmosfera e o
           desbalanceamento da proporção de CO2 tem acelerado o aque-
           cimento global, atingido níveis críticos que tendem a piorar de
           maneira drástica a crise climática.
                                                               Imagem da Woven City, da Toyota. Um percurso de teste de
             Também abundante na natureza, o hidrogênio é conside-
                                                               mobilidade para explorar o bem-estar de todos está sendo
           rado um vetor energético que poderá permitir uma nova era de   construído em um local de “fabricação” que costumava acomodar
           desenvolvimento econômico-social. Em países como Alema-  a fábrica da Toyota Motor East Japan, em Higashi-Fuji.
           nha e Japão, o debate sobre uma “nova economia de hidrogênio”
           é relevante para a transição energética e determina um conceito
           denominado “sector coupling”. Através do acoplamento de seto-
           res, é possível utilizar o excesso energético de um setor econô-
           mico como insumo para outro setor, sendo a molécula do hidro-
           gênio o meio que leva essa energia. Obviamente esse conceito só
           é válido se tal molécula for gerada através de fontes renováveis.
             Por muito tempo usou-se uma escala de cores para definir
           o quão renovável o hidrogênio pode ser considerado. Nessa es-
           cala, a cor verde é utilizada para classificar o hidrogênio oriun-
           do de energias eólica e fotovoltaica, principalmente. Como
           não há abundância de energia hidroelétrica na Europa, vários
           compêndios (europeus) nem mostram essa fonte como forma
           de produção de hidrogênio verde. Ocorre que a escala de cores
           é imprecisa e deve cair em desuso, sendo que o nível de emis-
           são de carbono no processo de produção do hidrogênio passa
                                                               Visão Inspiracional: Aichi Low-carbon Hydrogen
           a ter mais relevância enquanto critério de classificação.
                                                               Sypply Chain no Japão
             Ainda não existe uma definição universalmente aceita para
           a intensidade de emissão que classifique o hidrogênio como “de
           baixo carbono” ou “limpo”. A produção de hidrogênio pode ser   visando uma capacidade de 10 GW até 2030, contribuindo para
           realizada por diversas rotas, cada uma com diferentes intensida-  a meta de zero emissões líquidas até 2050.
           des de emissões de CO  equivalente por quilograma de hidro-  Já o congresso brasileiro está contemplando uma legislação
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           gênio (CO  eq/kg H ). Rotas que utilizam combustíveis fósseis   que designa como “hidrogênio de baixo carbono” os processos
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           sem tratamento podem emitir até 27 kg CO  eq/kg H , en-  produtivos que emitam menos de 4 kg de CO eq/kg H . No
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           quanto a produção via biomassa com captura e armazenamento   nosso país, a energia elétrica proveniente da rede tem uma bai-
           de CO  pode resultar em emissões negativas. A média global de   xa pegada de carbono na maior parte do ano, sendo a energia
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           emissões em 2021 foi de 12-13 kg de CO  eq/kg H , com metas   hidrelétrica sua principal fonte. Além disso, as energias fotovol-
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           para redução para 6-7 kg de CO  eq/kg H  até 2030 e abaixo de   taica e eólica contribuem para a geração de hidrogênio limpo. O
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           1 kg CO  eq/kg H  até 2050, conforme o cenário da IEA para   Brasil tem sido visto com um celeiro de produção de hidrogênio
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           Net Zero. O parlamento da União Europeia apoia um limite de   de baixo carbono pela Europa. Assim, apesar de uma vantagem
           3,38 kg de CO eq/kg H  para classificar o hidrogênio como de   comparativa a nosso favor, existe um risco fundamental, con-
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           baixo carbono. Em agosto de 2021, o Reino Unido apresentou   tinuarmos a ser meros exportadores da commodity “hidrogênio
           a Estratégia de Hidrogênio do Reino Unido, com um plano   verde”. A criação de uma economia e de uma indústria brasileira
           para impulsionar a produção de hidrogênio de baixo carbono,   para o hidrogênio de baixo carbono são fundamentais.

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