Page 18 - Revista EAA - Edição 87
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CAPA MOBILIDADE SUSTENTÁVEL
Desafios e oportunidades do
uso do hidrogênio na aviação
A indústria da aviação tem demanda intensiva de energia e líquido-dependente, utilizando, Figura 1: processo de aprovação de novos combustíveis de aviação
há décadas e de forma segura, o querosene de aviação [QAV] em motores a turbina
André Gasparotti e Marcelo Gonçalves
Uma aeronave, após a sua entrada em serviço, em sendo tion Turbine Fuel Containing Synthesized Hydrocarbons, As questões de sustentabilidade e de redução de emissões competitiva. Nas rotas homologadas pela ASTM D7566, a
respeitadas suas tarefas de manutenção, tem uma longa vida que contemplam diversas tecnologias para a produção de um na aviação civil, portanto, não são discutidas nesse fórum da demanda por hidrogênio está presente em todos os processos,
útil, operando por cerca de 30 anos, levando à crença de que QAV alternativo. Essas tecnologias permitem o uso de maté- ASTM, mas nas agências ambientais ou de aeronavegabilida- o que demonstra a importância da obtenção do hidrogênio
o segmento aeronáutico demandará, ainda por muitos anos, o rias-primas potencialmente sustentáveis, como óleos vegetais, de de cada país e, principalmente, no âmbito da International de forma limpa. E esse foi um dos pilares de uma avaliação
combustível líquido. gordura animal, resíduos lignocelulósicos, etanol, isobutanol, Civil Aviation Organization (ICAO). científica feita por Klein et al., onde três rotas homologadas
O QAV utilizado nos jatos é um combustível cuja especi- gases de aciaria, entre outras. Existem anexos que contemplam No intuito de fomentar a redução das emissões na aviação, para produção de SAF — Fischer-Tropsch (FT), Hydropro-
ficação é uma das mais harmonizadas no mundo. Internacio- também fontes fósseis, como o carvão e o gás natural. que representam cerca de 2% das emissões antropogênicas, o cessed Esters and Fatty Acids (HEFA) e o Alcohol-to-Jet
nalmente, recebe designações como Jet Fuel, Kerosene-Type Ao atender todos os requisitos em um determinado anexo Air Transportation Action Group (ATAG), coalizão de diversas (ATJ) — foram avaliadas agregando-se unidades produtoras à
Jet ou Turbine Fuel. Uma grande parcela de países segue os e também de sua mistura final com o QAV fóssil, este QAV entidades ligadas à indústria da aviação, estabeleceu como meta operação de uma usina de açúcar (greenfield). Para a produção
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requisitos das normas publicadas pela americana ASTM In- alternativo pode ser redesignado como ASTM D1655 e ser reduzir em 50% as emissões de CO2 até 2050, tendo como base de hidrogênio, foi priorizada a hidrólise da água. Esse estudo
ternational (ASTM D1655) ou os requisitos da norma do misturado na infraestrutura existente nos aeroportos para uso o ano de 2005. Essa meta está lastreada em incrementos liga- demonstrou que, com tais aportes tecnológicos, usinas de açú-
Ministério de Defesa do Reino Unido (UK MoD DefStan nas aeronaves, pois ele é considerado “drop in”, ou seja, in- dos à tecnologia, incluindo combustíveis sustentáveis de aviação car poderiam se tornar biorrefinarias, produzindo o SAF, naf-
91-091). Em alguns países, como o Brasil, a regulamentação distinto do seu equivalente fóssil, não requerendo nenhuma (SAF, a sigla em inglês), melhorias na gestão de tráfego aéreo ta para uso petroquímico e diesel verde combustível, que tem
para o QAV atende aos itens mais restritivos que compõem as alteração de infraestrutura ou da aeronave. e operações aeroportuárias. Além disso, medidas baseadas em forte potencial na redução de emissões para o modal automo-
duas normas supracitadas, através da resolução nº 778/2019 O processo de aprovação de um novo combustível não é economia de mercado precisariam ser aplicadas para estimular a bilístico, além de ser uma das rotas que está em avaliação na
da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombus- trivial e deve seguir a Norma ASTM D4054 Standard Prac- redução das emissões, o que gerou a criação do programa Car- ASTM para homologação, a princípio em baixos percentuais
tíveis. Essas normas contemplam a presença de componentes tice for Evaluation of New Aviation Turbine Fuels and Fuel bon Offsetting and Reduction Scheme for International Avia- de mistura (KLEIN, 2018).
sintéticos na composição quando produzidos em refinarias a Additives. A nova tecnologia, ao ser aprovada, se torna um tion (Corsia), que contribui para que se atinja uma meta global Diversas universidades estão pesquisando o uso de hidro-
partir de petróleo, areias betuminosas e derivados de xisto. novo anexo da D7566. Toda tecnologia candidata deve ser de crescimento carbono-neutro de 2020 em diante e estimula o gênio na aviação, entre elas a holandesa TU Delft, com o seu
No caso de matérias-primas diferentes das anteriormente submetida à avaliação e votação para aprovação pelo subcomitê uso de combustíveis sustentáveis e que reduzam em pelo menos arrojado projeto Phoenix, utilizando LH em seu protótipo. A
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mencionadas, a produção de QAV deve atender aos critérios ASTM D02.J0 Aviation Fuels, o principal fórum para homo- 10% as emissões em comparação ao QAV. Embraer, em parceria com a TU Delft, desenvolve o projeto
e estar incluída em um dos sete anexos da versão de 2020 logação. O foco desse subcomitê é garantir a segurança e o de- Na indústria de novos combustíveis, processos que consi- Hydrogen Road Map para maior compreensão das oportuni-
da norma ASTM D7566 Standard Specification for Avia- sempenho da aeronave que utilizará um novo combustível. gam mitigar ao máximo as emissões de CO terão vantagem dades e dos desafios do uso desse combustível na aviação.
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