Page 14 - Revista EAA - Edição 98
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TRANSIÇÃO ENERGÉTICA
O governo de MG investiu num Laboratório-Fábrica de ímãs de terras-raras (Labfab ITR),
concebido para produzir até cem toneladas anuais
A questão é entender se a América Latina continua- avançou no início dos anos 2010. Sucesso foi obstaculi-
rá a ser uma exportadora de matérias primas, com um zado por um problema já antevisto por vários pesquisa-
pequeno grau de processamento, ou se haverá espaço dores: o tamanho micrométrico dos cristais de monazita
para uma maior agregação de valor. presentes no minério, sempre associados com magneti-
O assunto terras-raras frequenta a academia brasilei- ta, o que tornava muito custosa a concentração, ou seja,
ra em ondas, como o mar. Uma onda forte levantou-se a eliminação do ferro.
nos anos 1980, logo após o anúncio do desenvolvimen- Ultrapassado o pico de preços, as empresas con-
to dos ímãs de neodímio-ferro-boro pelos japoneses. sumidoras de ímãs deixaram de lado as estratégias de
Uma dezena de grupos de pesquisa se entusiasmou com longo prazo e voltaram a comprar da China. A preocu-
o tema, vários projetos de pesquisa foram financiados, pação generalizada refluiu, o maior projeto americano
o maior fabricante brasileiro de ímãs da época (Eriez) (Molycorp) faliu e os únicos suspiros vieram quando a
investiu em equipamentos, mas nos primeiros anos da Tesla anunciou que tinha desenvolvido um novo motor,
década de 1990 assistiu-se à China invadir o mercado com ímãs. A maioria dos projetos morreu, mas um deles
mundial, a falência da empresa interessada e o progres- sobreviveu, o da empresa australiana Lynas, com gran-
sivo abandono acadêmico do tema. de apoio de capital japonês, apesar do arriscado arranjo
Em 2011, um conflito geopolítico entre a China e o logístico adotado.
Japão provocou uma corrida por estoques e um pico de Um dos problemas do processamento da matéria-
preços que moveu o mundo inteiro em busca de alter- -prima é a frequente presença de teores significativos
nativas à China. Centenas de novos projetos surgiram, de elementos radioativos junto das terras-raras. É pos-
vários no Brasil, incluindo um da CBMM, o que mais sível separá-los, mas isso gera um rejeito radioativo. A
14 abril/maio/junho