Page 48 - Revista EAA - Edição 72
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FERROVIÁRIO
pel de escoar a produção das áreas rurais até os
centros de consumo, através da conexão com as
rodovias principais. E, em muitos casos, as short
lines também agregam cargas às ferrovias prin-
cipais (heavy haul).
Colocando nos trilhos
A operação de uma short line é similar à de
qualquer outro tipo de ferrovia, explica o autor
da proposta. Segundo Pejo, pode ser adotado o
modelo vertical, no qual a empresa é responsável
As short lines O fato de metade da nossa capacidade insta- pela infraestrutura, operação, material rodante e
podem empregar lada estar ociosa atualmente, continua ele, é con- comercialização, bem como o horizontal, quan-
material rodante sequência da opção das concessionárias pelas do há um gestor para a infraestrutura (no caso as
de várias gerações, ferrovias de alta capacidade – as chamadas heavy concessionárias atuais) e outro para a operação
inclusive os já
improdutivos para haul –, que visam grandes volumes e alta produ- do material rodante e comercialização através
heavy haul. Mas tividade, concentrando as atividades em nichos de contrato de parcerias onde o operador short
a indústria do de mercado que satisfaçam essas condições. O line assume os investimentos para utilizar a via
país também se resultado é que em vários setores da economia através de acordos com o concessionário.
beneficiaria com do país, especialmente na produção agrícola e na A diferença está nas exigências de cada um,
a demanda certa indústria de base, ainda persiste uma forte pro- mas, em ambos, as short lines devem ter trata-
por novos vagões cura pelo transporte sobre trilhos. “À exceção da mento mais simplificado, quando comparadas
e locomotivas logística do minério de ferro, na qual o modal a uma ferrovia convencional, ressalva o especia-
ferroviário tem expressiva participação, os de- lista. Além disso, será preciso estabelecer ajustes
mais segmentos produtivos continuam, basica- às exigências para o OFI-Short line (Operador
mente, dependentes do setor rodoviário”, afirma Ferroviário Independente) e para os GIF - Short
o executivo, que também é secretário-geral da line (Gestor de Infraestrutura Ferroviária).
Associação Latino-Americana de Ferrovias Os principais envolvidos na discussão para a
(Alaf) no Brasil. implantação das short lines são as concessioná-
E é justamente para atender a essas demandas rias, a Associação Nacional de Transportes Ter-
de logística reprimidas para o modal ferroviário restres (ANTT), o Ministério dos Transportes,
– e, ao mesmo tempo, acelerar o desenvolvi- as indústrias e produtores da região objeto do
mento deste setor, estabelecendo uma atividade estudo, os estados e os municípios. Para tirar a
viável para as linhas pouco utilizadas ou desati- proposta do papel, o primeiro passo é acordar
vadas – que Pejo propõe a adoção no Brasil das com a concessionária a devolução do trecho no
chamadas short lines (linhas curtas) nos trechos qual ela não tem interesse.
com pouco ou nenhum interesse comercial para A partir daí, o processo é o de uma conces-
as concessionárias. Esse tipo de operação regio- são comum, ou seja, começa com os Estudos de
nal já é empregado com enorme sucesso pelos Viabilidade Técnica e Ambiental (EVTEA),
pequenos e médios produtores nos Estados seguido pelas audiências públicas. A quantidade
Unidos, onde corresponde a 30% da malha fer- de linhas disponibilizadas para as short lines de-
roviária do país. Segundo a associação que ge- penderia da definição da malha devolvida pelas
rencia as short lines americanas, são 550 linhas, concessionárias e dos laudos do EVTEA. As
totalizando 80.500 km de extensão, com geração regiões com maior potencial de instalação das
de 17.000 empregos diretos e transporte de 500 short lines, inicialmente, são os estados de São
milhões de toneladas por ano – 25% de toda a Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Ge-
movimentação nas ferrovias Classe I dos EUA. rais e alguns do Nordeste. Em certos casos, as
Funcionalmente, as short lines podem ser short lines brasileiras também podem ser conec- FOTO FERNANDO CUNHA
comparadas às rodovias vicinais, como são co- tadas com as hidrovias, atuando como mais um
nhecidas as estradas secundárias que têm o pa- alimentador na cadeia logística.
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