Page 34 - Revista EAA - Edição 73
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PONTO DE VISTA
Insistir em
Eficiência Energética
O encerramento do Inovar-Auto, no final deste ano, abre oportunidades
de debates sobre a sua evolução. O programa causou polêmicas por
envolver uma política industrial considerada protecionista pela União
Europeia e Japão. Projetado para um período de cinco anos (2012-2017),
e incluindo muitas exigências burocráticas, mostrou saldo final discutível
e agravado pela severa recessão econômica que atingiu em cheio indústria
automobilística e fornecedores.
Introduziu, porém, com sucesso metas de diminuição de consumo de
combustível e foi responsável direto pela boa evolução dos motores produzidos
por todos os fabricantes. Popularizou ainda o conceito de eficiência energética,
embora as referências em MJ/km não fossem bem compreendidas pelos
motoristas sem maior conhecimento técnico (a grande maioria). Mas, todos
sentiram uma evolução dos consumos, tanto de gasolina (E27) quanto de etanol
Fernando Calmon (E100), na tradicional medição em km/l.
é engenheiro, jornalista, editor Não se sabe se o governo federal vai propor um Inovar-Auto II. Mas parece
da coluna Alta Roda e diretor de haver consenso de que o programa de eficiência energética deve continuar e,
redação da revista Top Carros idealmente, com parâmetros de 10 anos à frente, podendo receber avaliações e
eventuais correções após cinco anos.
Diretrizes de longo prazo são tudo o que engenharia e administradores de
empresas precisam para introduzir novas tecnologias. Uma ótima oportunidade
também para a cilindrada dos motores deixar de balizar unicamente a carga fiscal
sobre automóveis.
Taxação considerando emissões de CO 2, ligadas umbilicalmente ao consumo
de combustível, daria liberdade para soluções avançadas e específicas. Talvez
bastasse uma única divisão: até e acima de 2 litros.
Outra ideia é introduzir o conceito de emissão total de gases de efeito estufa
Parece haver desde a sua origem até o que sai pelo escapamento dos veículos (no jargão
consenso de técnico, do poço à roda). Forma justa e tecnicamente correta de estimular o
que o programa uso de biocombustíveis como etanol, biodiesel e biometano. Há de se valorizar
de eficiência as externalidades dessas alternativas, quando continuam as preocupações
energética deve mundiais com CO 2 e possíveis mudanças climáticas. Não se trata de subsidiar
continuar o biocombustível, mas de elevar a taxação sobre os de origem fóssil a fim de
encontrar um equilíbrio que atraia o consumidor e incentive o produtor.
Embora ainda sem repercussão fora da comunidade técnica, chegou a hora de
explicar ao governo e aos consumidores as vantagens de introdução de um novo
tipo de etanol com menor teor de água, meio-termo entre anidro e hidratado.
Pode ser utilizado puro ou misturado à gasolina sem qualquer problema de
separação de fases, considerando-se a temperatura ambiente média do país.
Essa mudança poderia ser gradual e identificado de início como etanol
premium. Haveria imediato aumento de autonomia nos motores flex ao utilizar
o combustível renovável, além de ganhos pela melhor adequação às novas
tecnologias. O custo para desidratar o etanol tem caído com a introdução da
técnica de peneira molecular.
Caminho está dado. Falta apenas investir mais em comunicação. n
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