Page 34 - Revista EAA - Edição 83
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PONTO DE VISTA
Proatividade ou apatia da
engenharia automotiva brasileira?
O artigo que destaca Propulsões Alternativas dentro do programa
Rota 2030 mostra como, pela interação técnica entre representantes
dos diversos atores ligados ao setor automobilístico, foi possível mapear
e encaminhar proposições para o futuro desenvolvimento da eletrificação
do setor no Brasil.
Explorando os benefícios associados à eletrificação da mobilidade, o artigo
sobre veículos autônomos apresenta de maneira simples como as tarefas
dinâmicas de direção que são realizadas por um motorista passam a ser
realizadas pelo veículo autonomamente. O autor é criador de uma plataforma
de competição virtual entre carros, o que demonstra como, pela criatividade e
empreendedorismo brasileiros, podemos participar da revolução digital.
Dentre as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas com apoio de
organismos governamentais de financiamento de pesquisa estaduais (Fapesp)
Ph.D. Francisco Emílio e federais (Embrapii, Funtec, BNDES), dois artigos ilustram como empresas
Baccaro Nigro é professor da brasileiras de base tecnológica e institutos de pesquisa buscam a inserção
Escola Politécnica da USP econômica do país no novo paradigma.
No primeiro, discutiu-se o possível espaço futuro a ser ocupado pelo
hidrogênio como combustível veicular, o qual, no caso brasileiro, seria obtido
de diversas fontes renováveis, inclusive etanol. Para tanto, já foi desenvolvido
um reformador de etanol instalado em um contêiner que pode produzir H 2
em qualquer posto de abastecimento que tenha etanol.
No outro, pesquisadores do IPT apresentam as etapas já percorridas
para alcançar o domínio tecnológico na produção de ímãs de (Nd,Pr)-Fe-B
no país, com a participação da CBMM e da WEG. Neste caso, recursos
Não basta a naturais brasileiros de metais de terras-raras estão sendo explorados e
aproximação entre transformados em ímãs permanentes, ajudando o país a se inserir no
pesquisadores movimento global de eletrificação.
da academia e No entanto, ainda que o país possa criar algum espaço econômico na
das fabricantes e eletrificação da mobilidade como demonstrado pelos artigos, não basta a
sistemistas no país aproximação entre pesquisadores da academia e das fabricantes e sistemistas
no país para que componentes importantes do trem de força elétrico possam
ser aqui desenvolvidos e incorporados em uma plataforma mundial, uma
vez que os rumos tecnológicos e os fornecedores são definidos nas matrizes,
dentro do contexto global de cada fabricante. Dessa maneira, em minha
opinião, o diferenciador brasileiro já estabelecido no setor de mobilidade,
qual seja, uso de combustíveis líquidos renováveis, é a ponte fundamental
para a incorporação da eletrificação no aumento da eficiência da mobilidade,
sem que ocorra o sucateamento da engenharia automobilística nacional.
Para tanto, é fundamental uma ação governamental que coordene
estrategicamente os rumos do desenvolvimento tecnológico no país, com
ações junto a órgãos financiadores de pesquisa, a associações de engenharia e
a toda a cadeia produtiva do setor, para que as vantagens competitivas locais
possam ser desfrutadas economicamente pela sociedade brasileira e se tornar
realidades globais.
34 julho/agosto/setembro