Page 44 - Revista EAA - Edição 92
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PONTO DE VISTA
Construindo uita gente conhece a história – não sei se real ou
o futuro Mdado por um jornalista na entrada do campo, disse
anedótica - do jogador português que, ao ser abor-
que só daria um prognóstico do jogo ao final da partida. Na
O Estado terá papel para estimular o mesma linha, ouvi certa vez o seguinte alerta de um amigo
desenvolvimento das tecnologias de uma - obviamente em tom de piada: “é sempre muito arriscado
forma sustentável, buscando o bem-estar fazer previsões, especialmente sobre o futuro”. Essas duas
da população e a redução das desigualdades lembranças me vieram à mente quando recebi o convite
para participar desta publicação especial sobre o inacredi-
tável futuro. Entretanto, por nenhuma razão, me privaria de
Marcos Pontes
fazer parte deste prazeroso exercício que é, a partir do nosso
Ministro da Ciência, Tecnologias e Inovações
próprio conhecimento e de nossas experiências, imaginar o
mundo daqui a trinta anos.
Vamos lá: A criação do automóvel, no final do século
XIX, foi uma das invenções mais impactantes da história da
humanidade, mudando radicalmente nosso estilo de vida, as
cidades ao nosso redor, e abrindo tanto um universo de novas
possibilidades, como imensos desafios a serem enfrentados.
No entanto, embora a evolução da tecnologia automotiva
neste período tenha sido gigantesca, ainda há pontos em co-
mum entre os automóveis de hoje e os seus antepassados:
o motor de combustão interna, embora infinitamente mais
sofisticado, mantém os princípios que já eram vistos nos pri-
meiros automóveis desenvolvidos por Karl Benz e Gottlieb
Daimler em 1885. Além disso, a forma de dirigir um carro,
com o posicionamento do volante, dos pedais e do câmbio,
tem sido mantida com poucas variações desde os anos 30. No
entanto, quase 140 anos depois do seu surgimento e cerca de
100 anos após sua popularização (com a produção em mas-
sa desenvolvida por Henry Ford), nunca o automóvel esteve
tão próximo de uma revolução. Os temas que vão pautar esta
mudança, e que vão influenciar o futuro do setor nos próxi-
mos 30 anos, são as mudanças climáticas, a inteligência artifi-
cial e os desafios de mobilidade nos grandes centros urbanos.
Primeiramente, a necessidade de redução nas emissões
de carbono está acelerando a adoção de novas tecnologias
“Eu, particularmente, sou um de propulsão. Já em 2021, carros elétricos têm sido líderes
entusiasta do futuro – muito mais de vendas em países desenvolvidos, e seu desenvolvimento
que apenas um otimista. Vejo está se acelerando. No entanto, há outras tecnologias pos-
sempre o progresso da ciência e da síveis, como as células de combustível, inclusive podendo
tecnologia com olhos admirados, e ser abastecidas por etanol ou outras fontes renováveis. Os
acredito que não devemos jamais empecilhos a estas novas tecnologias – notadamente a au-
temê-la, tentar freá-la ou exercer tonomia e o tempo de recarga – têm sido superados gra-
qualquer controle limitante” ças ao desenvolvimento tecnológico acelerado, e com isso
saltam aos olhos vantagens como o silêncio de operação, o
bom desempenho e a elevada eficiência energética. Assim, é
razoável imaginar que, daqui a 30 anos, a frota de veículos
movidos a combustão será muito menor do que a de hoje.
Além disso, uma mudança de paradigma pode se confi-
gurar com base no surgimento dos veículos autônomos, que
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