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PONTO DE VISTA


         Zeitgeist, ou espírito do tempo*





                                                             olhamos ao nosso redor, percebemos que em muitas áreas
                                                             realmente o futuro já chegou, porém não homogêneo, não
                                                             está bem distribuído, complexo e que requer visão multi-
                                                             disciplinar, o nosso zeitgeist.
                                                                Num mundo cada vez mais cercado por máquinas e tec-
                                                             nologias, mediados por algoritmos, na fusão do físico e do di-
                                                             gital, phygital, na constante disputa por atenção onde tudo é
                                                             muito rápido e fluido, um mundo Beta, traçado a lápis, sofre
                                                             constante alteração e muitas questões éticas e morais ainda
                                                             não foram discutidas. Precisamos agir entre o utópico e dis-
                                                             tópico, no modo protópico, alinhando ações e propósito com
                                                             colaboração e cocriação de futuros desejáveis.
                                                                Estamos vivendo um momento de transição, ponto de
         Paulo Gianolla é Consultor de Inovação e Design como   inflexão, apoiados pela tecnologia que pode ser usada para
         Cultura e Estratégia| Futurista | Mentor de Design da   o bem ou para o mal. Assim como o fogo e a eletricidade,
         Mobilidade SAE BRASIL
                                                             a tecnologia é um meio para alcançar patamares de co-
                                                             nhecimento e progresso da civilização, mas não é o objeti-
                                                             vo final em si, apenas o meio.
                esta edição da EAA, da SAE BRASIL, a Casa do    A verdadeira inteligência está em tirar o melhor da tec-
                Conhecimento da Mobilidade Brasileira, aborda   nologia disponível e usar a inteligência emocional com o
        Na revolução inteligente, como algoritmos trans-     discernimento humano para ser o curador e tomador de de-
         formam nosso mundo e nos instiga a pensar não só    cisões que levem a esse futuro mais bem distribuído. Como
         nos benefícios, nas consequências e qual o nosso papel   disse, o professor de economia do MIT, Richard Bookstaber:
         nesse contexto.                                     “Nenhum homem é melhor que uma máquina. E nenhuma
            Como enfrentaremos os grandes desafios do nosso tem-  máquina é melhor que um homem com uma máquina!”
         po, causas sociais e educação digital? Como avançaremos   E o que sabemos sobre o futuro? O futuro não existe,
         para a neoindustrialização, criaremos resiliência frente aos   seja o de alguns segundos ou anos, dá no mesmo, pois o
         eventos climáticos extremos num cenário de transição ener-  futuro não é um lugar aonde estamos indo, mas um lugar
         gética para a mobilidade? Como seremos éticos e respeita-  que estamos criando e nele vamos viver. O futuro chega, e
         remos conceitos ESG e não deixaremos ninguém para trás?   quando chega, pode não estar adaptado ao que queremos.
            A resposta está em pensar futuros: futuros possíveis,   É continuamente moldado pelo aspecto ativo do presente,
         prováveis, desejáveis   e preferíveis.              pelo impacto de nossas ações, nossas inações e, também,
            Em 1932, Aldous Huxley, um dos maiores escritores   por nossa apatia. É criado a cada momento, e podemos de-
         de  ficção  científica,  lançava  sua  obra-prima, “Admirável   cidir fazer parte dessa criação ou não.
         Mundo Novo” (Brave  New World). Conhecido por ser      Uma vez que o futuro não existe tudo é potencialmente
         humanista e pacifista, ele nos leva a pensar sobre o futu-  possível, portanto, pensar no futuro é uma reflexão para onde
         ro, como seria a convivência entre homens e máquinas e   queremos ir. Efetivamente só temos o presente. E o que é o
         como essas relações afetariam comportamentos, levantan-  presente então? O presente é consequência de nosso passado
         do questões que pareciam difíceis de acontecer, por isso   e a causa de nosso futuro, ou seja, o tempo de agir é hoje.
         mesmo estavam lá, num futuro distante.                 “Nós estamos sendo chamados para ser os arquitetos do
            Porém, olhando nossa realidade agora em 2023, pode-  futuro, não suas vítimas”, Buckminster Fuller (1895/1983),
         mos dizer que saímos do “admirável” para o ‘inexorável”   visionário, designer, arquiteto, inventor e escritor.
         mundo novo. Nossa percepção é que já estamos viven-    Bem-vindo ao Futuro!
         do esse novo mundo, talvez mais pelo aspecto distópico,
         caótico, uma vez que sempre tivemos uma ideia utópica,
         idealizada na tese de que no futuro a humanidade resol-  *Zeitgeist é um termo alemão cuja tradução significa espírito da época
         veria todas as questões econômicas e sociais, mas, quando   ou sinal dos tempos, em uma tradução mais apurada: espírito do tempo.
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