Page 14 - Revista EAA - Edição 90
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CAPA          (E)SG - AMBIENTE















































          um climate bond, um sustainability bond ou, então, o lança-  reinante na categorização das empresas e dos instrumentos   variável: a inovação. De fato, temos, agora, que falar em   tempos descortinam e das possibilidades de captura de va-
          mento dos mais variados veículos de investimento associa-  financeiros, vemos ocorrer uma grande mobilização de re-     ESG&I. Com a velocidade e a profundidade das transfor-  lores intangíveis (redução de emissões) que uma atividade
          dos a determinados compromissos socioambientais (FDIC   guladores e autorreguladores no sentido de desenvolver uma      mações tecnológicas e de processos que vêm ocorrendo, os   correlata ao seu negócio (transporte) proporciona.
          Verde, CRA Verde, Fundo de Impacto etc.).          taxonomia para os chamados instrumentos financeiros ver-             modelos de negócio sustentáveis e escaláveis precisam se   Em síntese, o ESG representa uma estratégia de cria-
            Além disso, empresas e empreendimentos são instados   des e para a rotulação dos negócios de acordo com os impac-     inserir na fronteira da inovação e dominar a ciência e os   ção de valor financeiro e não financeiro de longo prazo que
          a observar standards, participar dos mais variados índices,   tos socioambientais que eles proporcionam.                novos instrumentos e processos de gestão. Sem o domínio   decorre de uma nova percepção da sociedade sobre a neces-
          perseguir métricas, obter certificações, relatar suas ativida-  No que concerne aos instrumentos financeiros, vemos     dos novos conhecimentos não haverá negócios competiti-  sidade de buscar o bem-estar da atual e das próximas ge-
          des de acordo com as melhores práticas e garantir aderência   que, por certo, a sua essência não muda. Risco e retorno   vos e longevos.                                    rações. A colocação em prática dessa estratégia gera gran-
          à legislação ou à autorregulação e obter licença social para   continuam dando o tom de qualquer avaliação. Mas, ago-      Isso tudo se aplica a qualquer setor da economia, da cons-  des impactos na maneira de fazer negócios, transformando
          operar. Os  stakeholders  querem ser respeitados e cobram   ra, há novos riscos (e custos) e novos retornos (e benefí-  trução civil à indústria da mobilidade e a quaisquer inter-  instrumentos e práticas consolidadas, mas também abrin-
          transparência e ética nos  negócios.  Investidores  exigem   cios) a serem considerados. Não há dúvida de que novos     venções localizadas, sejam elas nos setores de infraestrutura,   do inúmeras oportunidades para aqueles que se propõem
          determinadas entregas: baixas emissões de carbono, cadeia   riscos ambientais ou sociais entram na conta. Mas, também   sejam nos arranjos produtivos. Todas as análises passam a   a trabalhar em sintonia com os anseios de uma sociedade
          de custódia responsável, logística reversa, diversidade, pro-  é certo que muitos investidores já precificam retornos in-  convergir para uma visão mais integrada dos acontecimen-  que busca um desenvolvimento mais justo e sustentável. n
          dução sustentável, engajamento e contribuição aos ODSs.   tangíveis antes desprezados. A equação financeira se torna    tos. As análises em silos isolados perdem a sua eficácia.
          Os DRIs são obrigados a viver num ritmo frenético para   mais complexa, em linha com as novas expectativas de uma          Tomemos, para finalizar, um exemplo retirado de um             (1) JONAS, Hans. O princípio responsabilidade:
          encaminhar todas essas demandas.                   sociedade mais consciente dos impactos gerados pelos pro-            setor de grande interesse dos membros da SAE: o setor au-  ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Editora Contra-
            Tudo isso não representaria um grande problema se hou-  cessos de produção e de consumo da nossa economia.            tomotivo. Ao mesmo tempo que uma montadora longeva                           ponto e Editora PUC-Rio, 1979.
          vesse um consenso com relação ao que o atendimento a cada   Ou seja, estamos experimentando um mundo que vem            em nosso mercado decide sair do País por conta de inúme-
          um desses processos representa. Mas essa uniformidade não   introduzindo novas variáveis no universo dos seus negócios.   ros fatores que afetaram a sua competitividade local, vemos   *Sergio Weguelin é economista com mestrado em Economia
          existe. Não há clareza não apenas sobre o que representam os   Porém, os que estão se familiarizando com a nova maneira   uma cervejeira (Ambev) firmando contratos com startups       Política pela The New School for Social Research, NY
          novos termos da economia sustentável em si (verde, susten-  de tratar os negócios já percebem que o acrônimo de três    de veículos elétricos. Muito provavelmente, a indústria de   e sócio da Maker Sustentabilidade. Chefiou as áreas de Mercado
          tável, limpo, responsável etc.), como também não há clareza   letras ainda não está completo. Isso porque se torna evi-  bebidas não assumirá um ramo da indústria de transfor-       de Capitais e de Meio Ambiente do BNDES e também
          sobre quais ações ensejam uma determinada categorização   dente que a desejada sustentabilidade não será alcançada      mação, mas se mostra aberta às oportunidades de negócio   é Conselheiro de Administração de empresas abertas e fechadas.
          dos negócios. Com o  intuito  de eliminar  a inconsistência   sem que os negócios incorporem uma outra importante       decorrentes das transformações disruptivas que os novos      E-mail: sergio.weguelin@makersustentabilicade.com.br.
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