Page 13 - Revista EAA - Edição 90
P. 13
CAPA (E)SG - AMBIENTE
O movimento uitos devem estar surpresos com a recente por um tratamento equilibrado e integrado dos aspectos Novos tempos
dos instrumentos Mção, por uma sigla de três letras antes pouco ambientais, sociais e de governança dos nossos processos. Aparentemente, com conceitos mais bem definidos, tudo
ocupação, nos nossos meios de comunica-
sugeriria que estaríamos chegando a tempos mais tran-
Por algum motivo, nas conferências e debates que se
financeiros conhecida. Na verdade, o desembarque do ESG (para seguiram nas décadas seguintes, o tema meio ambiente quilos em termos da condução do nosso modo de produ-
acabou prevalecendo. Deu-se maior ênfase às questões
ambiental, social e governança, na sigla em inglês) no
ção. Nada mais equivocado.
verdes: nosso dia a dia é a cristalização de um processo que sobre clima, biodiversidade, oceanos, ozônio e carbono, cisamos enfrentar o ataque ao planeta e a crescente de-
Na verdade, ao se consolidar a percepção de que pre-
enquanto a pobreza e a desigualdade tiveram menos
vem de longa maturação.
foco em uma da sociedade sobre a sua concepção de geração de valor destaque. sigualdade com um tratamento integrado de múltiplos
Podemos considerar o ESG como um novo olhar
E eis, então, que após muitos debates e muitas trans-
aspectos, desencadeamos, de uma só vez, uma onda de
nova sociedade de longo prazo e remeter o início do processo de trans- formações tecnológicas que ampliaram as fronteiras da transformações nas mais variadas atividades econômicas,
atividade humana para territórios inimaginados, che-
na produção e no consumo, nos instrumentos financeiros
formação da percepção da sociedade na direção de um
modo de produção e consumo mais sustentável, que o ga-se à sigla ESG. Podemos supor que esse fenômeno e de gestão que utilizamos e na maneira como os empre-
A percepção é que precisamos enfrentar ESG captura, ao trabalho seminal de Raquel Carson indicaria que a sociedade, finalmente, busca abraçar o endimentos comunicam suas ações e como medem os
seriamente o ataque ao planeta e a em 1962 (Primavera Silenciosa) e aos trabalhos do fi- conceito de desenvolvimento sustentável sugerido pela impactos que geram.
crescente onda de transformações nas mais lósofo alemão Hans Jonas (1), durante as décadas de Comissão Brundtland. No mercado financeiro e de capitais, só para nos ater-
variadas atividades econômicas, sejam elas 1960 e 1970 e aos debates políticos (partidos verdes), E, provavelmente, não é por acaso que a vertiginosa mos a uma atividade específica, vimos surgir, de alguns
de produção, consumo, de instrumentos institucionais (Comissão Brundtland, COPs e outras) difusão dessa visão integrada dos aspectos de ESG apa- anos para cá, uma miríade de novos instrumentos finan-
financeiros ou gestão e acadêmicos que se seguiram. rentemente provém de uma eminente figura do mundo ceiros. E, se não exatamente novos instrumentos finan-
Em 1978, a Comissão Brundtland discutiu a explora- financeiro, como Larry Fink, da BlackRock, ou de gru- ceiros em si, por certo, instrumentos rotulados de muitas
Sergio Weguelin* ção predatória da natureza e a pobreza crônica, introdu- pos empresariais, como o Business Roundtable for Sus- novas maneiras. Basta examinar algum veículo econômi-
ziu o conceito de desenvolvimento sustentável e indicou tainable Finance. Afinal de contas, produção e economia co e verificar que ocorreu um lançamento de um green
que o encaminhamento dessas questões deveria passar movem a sociedade. bond, um impact bond, um social bond, um transition bond,
12 abril/maio/junho abril/maio/junho 13