Page 18 - Revista EAA - Edição 90
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CAPA ES(G) - GOVERNANÇA
Governança corporativa
ontem, hoje e amanhã
Uma empresa com boa gestão corporativa Entre os stakeholders existem aqueles que têm relação
toma melhores decisões e gere melhor mais direta com a empresa, ou maior risco, como acionistas,
seus riscos, além de levar em consideração conselheiros, executivos, fornecedores, empregados e clien-
o impacto de suas ações sobre todos tes. E existem também aqueles que podem ser impactados
os interessados pelo negócio da companhia de forma indireta, como o go-
verno, a comunidade e o meio ambiente do entorno.
Adriane dos Santos de Almeida* Na moderna governança corporativa, ao tomar uma de-
cisão, os líderes da organização, sejam membros do conse-
lho, sejam membros da alta gestão, devem levar em conta o
impacto de suas ações sobre todos os stakeholders. O exercí-
cio de maximização do valor da empresa deve ser limitado
pela resposta a algumas questões: estamos obtendo lucro
em detrimento de outros stakeholders? Estamos exaurindo
recursos naturais indevidamente? Estamos comprometen-
do o longo prazo da relação com nossos clientes, fornece-
dores e empregados?
Nesse questionamento, existe uma postura ética, mas
também uma questão financeira muito objetiva: a conta do
abuso de poder na relação com os stakeholders volta sob a
forma de falta de confiança, entrega de menor qualidade,
administração corporativa ganhou força nos Es- perda de parcerias e pressão da sociedade. Todos esses efei-
tados Unidos nos anos 1980 como uma reação ao tos têm custos, que, sem dúvida, reduzirão os resultados da
A poder excessivo dos executivos, os quais escolhiam empresa no longo prazo e, como o mercado é eficiente e se
os conselheiros de administração. Aqueles que deviam fis- ajusta, reduzirão seu valor econômico no presente.
calizar a gestão estavam por ela capturados. Com um mo- Uma empresa com boa governança corporativa toma
delo de alta dispersão acionária das empresas, com controle melhores decisões e gere melhor seus riscos. Com mais
das empresas por fundos de investimentos, esses acionistas confiança de seus stakeholders, produz resultados melho-
não logravam organizar-se para exercer seu poder de voto e res e menos voláteis no longo prazo. Tal estabilidade atrai
eleger conselheiros independentes. mais respeitabilidade junto ao mercado, com redução
Esse movimento tomou força no Brasil, mais de 15 no custo de captação de dívida e emissão de ações com
anos depois, sob outra forma. Por aqui, é mais comum en- prêmios maiores. Além de uma questão de propósito, a
contrarmos empresas de controle concentrado, no qual o governança objetivamente gera maior resultado aos acio-
Estado e grupos familiares detêm a maior fatia do capital. nistas e à sociedade.
Como consequência, o conflito que a governança corpo- Para entidades sem fins lucrativos, como associações ou
rativa veio atenuar se deu entre acionistas majoritários e outras organizações do terceiro setor, os mesmos princípios
minoritários. Mesmo detendo parcela relevante do capital de governança se aplicam, e o propósito está claramente
e, portanto, dos dividendos, os minoritários tinham pou- definido pela missão. O resultado financeiro deixa de ser o
co poder de decisão sob o direcionamento da companhia, fim e passa a ser um meio de realizar a causa. O sucesso no
enquanto os acionistas majoritários tinham os chamados terceiro setor se dá pela eficiência da gestão dos recursos
benefícios privados de controle. necessários para aumentar o impacto sobre a causa. n
Independentemente do tipo de conflito que tornou relevan-
tes e necessárias as boas práticas de governança corporativa, essa
temática evoluiu para resguardar o relacionamento entre um *Adriane dos Santos de Almeida é diretora de desenvolvimento do
número mais amplo de agentes que detêm relação de risco com Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e responsável
a empresa, ou seja, as partes interessadas (stakeholders). pelas áreas de educação e certificação do instituto.
18 abril/maio/junho