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PONTO DE VISTA


                                            Solução imediata e de menor

                                            custo para reduzir o CO                              2






                                            Sabe-se que a redução das emissões dos gases que causam o efeito estufa (GEE)
                                            é fundamental para garantir a sustentabilidade da humanidade em um futuro
                                            próximo. E, em contexto mundial, fica evidente que as soluções que estão sendo
                                            apresentadas em termos de combustíveis renováveis – etanol e biodiesel, por
                                            exemplo – serão insuficientes para resolver o problema integralmente, dada a sua
                                            disponibilidade limitada.
                                               A tendência que está se delineando como uma das principais alternativas para a
                                            redução do CO2 associado ao consumo de energia pelos diversos setores econômicos,
                                            inclusive o de transportes, é a escolha da eletricidade como a principal forma de distribuir
                                            energia para uso final. Na Comunidade Europeia, os veículos de passageiros seriam
                                            elétricos à bateria, com uma limitação de autonomia adequada ao seu uso em cidades.
                                               Nos Estados Unidos, com a abundância de gás natural de folhelho, a alternativa
                                            vislumbrada no longo prazo para descarbonização da energia utilizada no setor de
                                            transporte parece ser o uso de veículos elétricos movidos a células a hidrogênio, o
                                            qual seria produzido a partir da reforma do gás natural. Tanques de hidrogênio nos
                           Francisco Nigro   veículos a 700 atmosferas de pressão forneceriam a autonomia demandada pelos
                                            consumidores norte-americanos a um custo significativamente menor do que o das
                é membro do Conselho Superior
                                            baterias nos veículos elétricos correspondentes.
                da SAE BRASIL e professor da
                                               Embora as soluções com veículos elétricos possam ser aplicadas integralmente,
                    Escola Politécnica da USP
                                            o custo total de propriedade (CTP) dos automóveis elétricos, quer à bateria ou à
                                            célula a hidrogênio, é muito superior ao dos veículos convencionais ou híbrido-
                                            elétricos com motor de combustão interna. Para veículos que percorrem em média
                                            menos de 20.000 km/ano, o gasto com combustível é cerca de 1/4 do CTP, o qual
                                            inclui, além de combustível, depreciação, remuneração do capital, IPVA, seguro e
                                            manutenção. Assim, mesmo quando o custo energético do biocombustível (R$/
                                            MJ) é muito superior ao da eletricidade, que não é o caso brasileiro, a alternativa
                                            de menor custo total para a sociedade para reduzir as emissões de GEE em
                                            automóveis é o uso de biocombustíveis. Por outro lado, uma mudança radical
                                            do paradigma de propriedade de automóveis, que poderiam passar a ser veículos
                                            autônomos de empresas chamados pelo celular, levaria a quilometragem anual
                           Etanol para  desses veículos para mais de 100.000 km, tornando, em médio prazo, o CTP de
                           redução de       veículos elétricos competitivo com o dos convencionais.
                                               No Brasil não temos a mesma limitação global para produção de biocombustíveis,
                   emissão de gases         pois com cerca de 2% do território poderíamos produzir etanol suficiente para
                     de efeito estufa  substituir todo o consumo dos automóveis. Além disso, o preço energético da
                      por veículos de       eletricidade tem sido consistentemente superior ao dos biocombustíveis, o que
                           passageiros      reforça a posição atual e de médio prazo do etanol como alternativa de menor custo
                                            para reduzir emissões de GEE por automóveis. Por outro lado, a depender de como
                                            irá evoluir o processo de globalização econômica e a abertura de mercados, poderia
                                            ser mais vantajoso para o país no médio prazo exportar maciçamente etanol para
                                            servir como aditivo à gasolina de outras regiões.
                                               Resumindo, o bioetanol sozinho não vai resolver o problema mundial de emissão
                                            de CO2 por veículos de transporte individual de passageiros, mas certamente pode
                                            resolver o brasileiro com o menor custo total para a sociedade. Só não podemos ficar
                                            aguardando a regulamentação global e abandonar o setor sucro-energético, para
                                            evitar que tenhamos que reconstruí-lo quando a regulamentação chegar. Na escala de
                                            tempo de 15 a 20 anos, certamente o etanol é a melhor alternativa quando se fala na
                                            redução das emissões de GEE por veículos de passageiros.
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