Page 34 - Revista EAA - Edição 71
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PONTO DE VISTA
Solução imediata e de menor
custo para reduzir o CO 2
Sabe-se que a redução das emissões dos gases que causam o efeito estufa (GEE)
é fundamental para garantir a sustentabilidade da humanidade em um futuro
próximo. E, em contexto mundial, fica evidente que as soluções que estão sendo
apresentadas em termos de combustíveis renováveis – etanol e biodiesel, por
exemplo – serão insuficientes para resolver o problema integralmente, dada a sua
disponibilidade limitada.
A tendência que está se delineando como uma das principais alternativas para a
redução do CO2 associado ao consumo de energia pelos diversos setores econômicos,
inclusive o de transportes, é a escolha da eletricidade como a principal forma de distribuir
energia para uso final. Na Comunidade Europeia, os veículos de passageiros seriam
elétricos à bateria, com uma limitação de autonomia adequada ao seu uso em cidades.
Nos Estados Unidos, com a abundância de gás natural de folhelho, a alternativa
vislumbrada no longo prazo para descarbonização da energia utilizada no setor de
transporte parece ser o uso de veículos elétricos movidos a células a hidrogênio, o
qual seria produzido a partir da reforma do gás natural. Tanques de hidrogênio nos
Francisco Nigro veículos a 700 atmosferas de pressão forneceriam a autonomia demandada pelos
consumidores norte-americanos a um custo significativamente menor do que o das
é membro do Conselho Superior
baterias nos veículos elétricos correspondentes.
da SAE BRASIL e professor da
Embora as soluções com veículos elétricos possam ser aplicadas integralmente,
Escola Politécnica da USP
o custo total de propriedade (CTP) dos automóveis elétricos, quer à bateria ou à
célula a hidrogênio, é muito superior ao dos veículos convencionais ou híbrido-
elétricos com motor de combustão interna. Para veículos que percorrem em média
menos de 20.000 km/ano, o gasto com combustível é cerca de 1/4 do CTP, o qual
inclui, além de combustível, depreciação, remuneração do capital, IPVA, seguro e
manutenção. Assim, mesmo quando o custo energético do biocombustível (R$/
MJ) é muito superior ao da eletricidade, que não é o caso brasileiro, a alternativa
de menor custo total para a sociedade para reduzir as emissões de GEE em
automóveis é o uso de biocombustíveis. Por outro lado, uma mudança radical
do paradigma de propriedade de automóveis, que poderiam passar a ser veículos
autônomos de empresas chamados pelo celular, levaria a quilometragem anual
Etanol para desses veículos para mais de 100.000 km, tornando, em médio prazo, o CTP de
redução de veículos elétricos competitivo com o dos convencionais.
No Brasil não temos a mesma limitação global para produção de biocombustíveis,
emissão de gases pois com cerca de 2% do território poderíamos produzir etanol suficiente para
de efeito estufa substituir todo o consumo dos automóveis. Além disso, o preço energético da
por veículos de eletricidade tem sido consistentemente superior ao dos biocombustíveis, o que
passageiros reforça a posição atual e de médio prazo do etanol como alternativa de menor custo
para reduzir emissões de GEE por automóveis. Por outro lado, a depender de como
irá evoluir o processo de globalização econômica e a abertura de mercados, poderia
ser mais vantajoso para o país no médio prazo exportar maciçamente etanol para
servir como aditivo à gasolina de outras regiões.
Resumindo, o bioetanol sozinho não vai resolver o problema mundial de emissão
de CO2 por veículos de transporte individual de passageiros, mas certamente pode
resolver o brasileiro com o menor custo total para a sociedade. Só não podemos ficar
aguardando a regulamentação global e abandonar o setor sucro-energético, para
evitar que tenhamos que reconstruí-lo quando a regulamentação chegar. Na escala de
tempo de 15 a 20 anos, certamente o etanol é a melhor alternativa quando se fala na
redução das emissões de GEE por veículos de passageiros.
34 julho/agosto/setembro