Page 22 - Revista EAA - Edição 76
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MODAIS FERROVIÁRIO ESPECIAL
Trilhos do passado turismo e de negócios, os mais criativos de que
se tem notícia na área de transportes ao turismo.
para a mobilidade se decide integrar os trilhos que não interessam
No Brasil, estamos na encruzilhada, na qual
do futuro para as concessionárias heavy haul e tornar esses
trilhos lucrativos com cargas e passageiros. Nada
será fácil, mas nos próximos dias (semanas, mês)
O País está tentando desatar o nó que decidirá essa questão certamente será rediscutida e, quem
sobre a integração dos trilhos que não interessam sabe, equacionada.
para as concessionárias heavy haul e tornar esses O mundo já decidiu que esse é o caminho,
trilhos lucrativos para cargas e passageiros mas aqui no Brasil teremos de encorajar e in-
centivar o segmento empresarial a participar
Paulo Westmann*
disso. O roubo de cargas, o encarecimento do
transporte por perdas de produtividade provo-
A convivência nada pacífica entre carga e passageiros é parte do problema cadas pelos engarrafamentos na chegada das
do transporte ferroviário. Desde o início das concessões, iniciadas em grandes cidades e por desafios do e-commerce
1996, os passageiros foram como que descartados, o que fez com que os que exigem prazos e custos competitivos per-
problemas deixassem de ser momentâneos para fazerem parte das pers- mitem colocar em pauta a eventual retomada
pectivas nada promissoras do futuro. O transporte ferroviário que se es- dos trilhos com propostas para aproveitá-los
tabeleceu desde então foi o heavy haul (grandes volumes, homogeneidade para integrar as cidades, as cargas e a economia
de carga e alta tecnologia entre origem e destino). das regiões.
A carga geral, que tradicionalmente era transportada nos vagões dos As vantagens disso estão no fato de que as
Correios e integrada aos trens de passageiros, deixou esse modal. Os ga- ferrovias chegam ao centro das grandes cidades.
nhos e perdas do transporte de correspondências e encomendas passaram As desvantagens são os elevados investimentos
a ser feitos sobre pneus (ônibus e caminhões). para o transporte ferroviário, que dependem
A rapidez consolidou o transporte rodoviário de cargas e passageiros. (quase sempre) de uma interação, entre os ca-
Entretanto, a questão que se impõe é o que fazer com os milhares de pitais públicos e privados. O transporte rodovi-
quilômetros de trilhos e de estações ferroviárias existentes. De um lado, ário de cargas e de passageiros deveria ser atra-
diversas cidades se formaram pela própria ferrovia; de outro, a realidade ído para o equacionamento dessa questão. A
evidenciada é a de que o transporte porta a porta é rodoviário. Essa ten- ANTT (Agência Nacional de Transportes Ter-
dência não é privilégio do Brasil e está consolidada mundo afora. restres) e a CNT (Confederação Nacional do
Nos Estados Unidos e na Europa, os trilhos das ferrovias secundárias Transporte) são organismos reconhecidamente
(aquelas que não integram as linhas heavy haul) integram mais de 2 mil competentes para apoiar essa discussão. As asso-
novas organizações que se formaram para aproveitar os trilhos e a in- ciações e entidades podem ajudar trazendo esse
fraestrutura implantadas. Essa apropriação dos trilhos e da infraestrutura tema para a pauta dos congressos, seminários e
hoje se enquadra na categoria de short lines, denominação que caracteri- para ampliar as discussões entre os segmentos
za empresas privadas que empreendem pequenos negócios, capazes de econômicos capazes de ocupar essas posições no
se sustentar longe do governo e da gestão pública, e que geram lucros ao cenário da economia do país.
alimentar as heavy haul ou explorar o potencial regional de produção, de A convergência entre os desafios de capitais e
tecnologias pode trazer contribuições para uma
Ferrovia Norte-Sul nova realidade do transporte sobre trilhos. Acre-
dito que os trilhos sejam parte da solução para
o transporte e o abastecimento das cidades no
futuro. Se não é possível trazer trilhos na por-
ta dos estabelecimentos, quem sabe se consiga
pelo menos apoiar a integração ferroviária com
os outros modais. n
* Paulo Westmann é consultor em tecnologia e
transporte e membro do Comitê Ferroviário
da SAE BRASIL
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