Page 18 - Revista EAA - Edição 76
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Pela divisão modal para os anos levantados como pontos pode-se analisar a influência da
transferência modal na variação da frota de veículos para o transporte rodoviário de carga
no ano inicial 1970 e para o ano final, 2016, críticos (Figura 8). Durante os anos estudados,
percebe-se um maior equilíbrio na utilização dos modos. A mudança dos modos de
transporte para aqueles com maior capacidade reduziria o uso do transporte rodoviário de
carga, principalmente no que se refere à etapa de transferência (longas distâncias). Isto
devido ao fato do transporte rodoviário de carga ser mais adequado para curtas distâncias,
500 quilômetros em média, com cargas de pequeno volume e alto valor agregado (Furtado e
Frayret, 2015). Entretanto, de 2007 a 2013 houve um aumento de 16,9% no licenciamento
de veículos rodoviários de carga, que representa um aumento da demanda de serviços de ESPECIAL
ANÁLISE
MODAIS
transporte rodoviário e uma maior pressão sobre as rodovias (CNT, 2014).
transporte rodoviário de carga e PIB é o inves-
timento em transporte mais limpo, alteração na
divisão modal, as mudanças tecnológicas que
exigem menos mercadorias e a transição de eco-
nomias orientadas para o serviço. A população
também apresentou certo grau de correlação, já
que o aumento do número de habitantes im-
plica no aumento da demanda por alimentos e
produtos.
Quanto à variação da frota, o crescimento
dos veículos pesados pode ser justificado pelo
Figura 8: Divisão modal nos anos estudados aumento da demanda do transporte rodoviário
Figura 5. Divisão
Fonte: Elaboração própria a partir de Greenpeace. de carga, mesmo para transferências, isto é, lon-
modal nos anos
CONCLUSÃO
gas distâncias e grandes quantidades de carga.
estudados O estudo realizou uma análise histórica para O Brasil tem alcançado um maior equilíbrio da
Fonte: Elaboração
O modo rodoviário possui atributos de flexibilidade para atuar do início ao fim da cadeia
identificar as possíveis causas das mudanças no matriz de transportes em 2016, se comparado ao
própria a partir de
produtiva, permitindo o acesso a locais não alcançados por ferrovias e por hidrovias,
Greenpeace
ano 1970. Ainda assim, mesmo com o aumento
transporte rodoviário de carga brasileiro. As va-
compatíveis com diferentes tipos de cargas e origens e destinos da movimentação (CNT,
da utilização dos modos ferroviários e aquaviá-
riáveis com maior correlação foram frota de veí-
ro, o transporte rodoviário tem participação de
culos rodoviários de carga e momento do trans-
2015). O Brasil possui grande movimentação de cargas para a exportação, tais como soja,
porte ferroviário de carga. A correlação com a aproximadamente 61,1% no transporte regional
milho, cuja participação no volume total de grãos produzidos no Brasil é de 85,8% (CNT,
frota de veículos rodoviários de carga é coerente de cargas (CNT, 2014).
2014). Para exportação e/ou percursos de longas distâncias, como no caso do escoamento
porque quanto maior o momento de transporte As legislações que estabelecem limites no
de grande parte da produção agrícola brasileira, o transporte rodoviário deveria atuar no
rodoviário de carga, maior a capacidade neces- acesso às áreas urbanas seriam responsáveis pelo
deslocamento da produção das origens até os transbordos para modos com maior
aumento da utilização dos VCL e dos veículos
sária para carregar a carga e assim maior neces-
capacidade para estes tipos de carga ou em ligações mais curtas dentro do sistema logístico.
leves, bem como a entrada no mercado de VCL
sidade de aumentar a frota. Entretanto, verifi-
Entretanto, com a reduzida oferta de infraestrutura adequada à operação de outros modos,
cou-se que as vendas de veículos rodoviários de chineses. O fato das restrições em áreas urbanas
as rodovias são responsáveis pela maior parte da movimentação de cargas no país. (CNT,
carga não têm uma correlação tão forte com o justificarem o aumento dos VCL, leves e que a
2015). momento de transporte rodoviário de carga, já transferência de produtos em grandes quantida-
que é uma variável relacionada à frota. des, o de veículos semipesados e pesados, pode-
Quanto ao momento de transporte de cada ria justificar uma redução dos veículos médios,
O crescimento da frota de veículos pesados pode ser explicado devido ao aumento da
modo, o momento do transporte ferroviário de que não atendem áreas urbanas e não possuem
carga apresentou uma forte correlação, demons- capacidade para a transferência se comparado
trando uma forte intermodalidade entre este aos veículos pesados, que não seriam os veícu-
modo e o modo rodoviário. Apesar de compe- los mais adequados se comparados aos de maior
tirem entre si, o modo rodoviário complementa eficiência dos modos ferroviário e aquático.
o modo ferroviário, pois é mais flexível. Além Uma limitação do estudo foi não ter levanta-
disso, o momento de transporte marítimo de do dados quanto ao tipo de carga transportada.
cabotagem apresenta um R² próximo a 0,90, Esses dados auxiliariam para uma melhor aná-
assim indica que o modo marítimo possui uma lise quanto ao modo rodoviário, a heterogenei-
forte intermodalidade com o modo rodoviário. dade da frota, e sua relação com outros modos.
O momento de transporte aéreo de carga não Além disso, o alcance do objetivo deste estudo
apresentou nenhuma correlação, já que o tipo de foi limitado pela questão da autonomia dos
carga transportada por esse modo é muito es- Municípios para criarem suas restrições ao aces-
pecífico, de alto valor agregado e de pequenas a so do transporte de carga em suas áreas urbanas.
médias demandas. n
Por ser o principal fator utilizado para a mo- * Isabela Rocha Pombo Lessi de Almeida, Mariane
delagem de transportes, era esperado que o PIB Gonzalez da Costa, Daniel Schmitz e Márcio
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apresentasse um R maior que 0,90. Entretanto, de Almeida D’Agosto pertencem ao Programa de
o resultado foi um valor de 0,8086. As possí- Engenharia de Transportes (PET/COPPE) e à
veis razões dessa dissociação entre momento de Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
18 outubro/novembro/dezembro