Page 18 - Revista EAA - Edição 96

ELETROMOBILIDADE
ISTOCKPHOTO
Roadmap para 1. Antecedentes e contexto
a infraestrutura O Roadmap Nacional para a Infraestrutura de Mobilidade
Elétrica teve sua criação apoiada em dois fatos destacáveis:
da mobilidade (1) a criação da Rede de Inovação do Setor Elétrico (Rise);
(2) o lançamento da Chamada de Projeto de P&D Estra-
elétrica no Brasil tégico Aneel n. 022/2018. Nesse sentido, estabeleceu-se o
contexto favorável para a discussão da infraestrutura de re-
carga sob múltiplas facetas setoriais e com a pluralidade de
Trata-se de uma bússola poderosa que atores em torno de um ecossistema em formação.
mostra um caminho para o futuro da 1.1. Rede de Inovação do Setor Elétrico
expansão da infraestrutura de recarga de
veículos elétricos. Mais que isso, impõe O programa de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) da
ações concretas para que se obtenham os Aneel, instituído pela Lei n. 9.991/2000, tem pavimentado
até aqui uma trajetória de relevante contribuição ao desen-
resultados esperados
volvimento do setor elétrico e da geração de conhecimento
científico. Mesmo com essa prerrogativa, o setor elétrico
Edgard Barassa e Robson Ferreira da Cruz*
tem experimentado mudanças globais que extrapolam a
concepção e o arranjo tradicional do setor e, nesse sentido,
este movimento também se ancora e cria ressonância no
modelo em que se baseia o programa de P&D Aneel, po-
dendo ser interpretado a partir de diferentes prismas.
Pode-se citar a conjuntura em que o programa se in-
sere, em que transformações tecnológicas são frequentes e
impõem respostas rápidas aos temas e desafios propostos.
A digitalização dos processos e a existência de modelos
de negócios alternativos são elementos que se derivam da
descentralização da geração de energia, tendo os Recursos
18 outubro/novembro/dezembro
Figura 1. Recursos Energéticos Distribuídos (RED). Fonte: EPE.
Energéticos Distribuídos (RED) como grande fio condu- alvo é a Lei do Bem (Lei n. 11.196/2005), aperfeiçoada
tor e, agora, o protagonismo do antigo consumidor, que é pela Emenda Constitucional n° 85/2015, conhecida como
entendido como “prosumidor” (pois, além de consumidor,
Emenda da Inovação.
também é um produtor) (figura 1). com a promulgação da Lei 13.203/2015, que preconizou a
Diante desse cenário, o programa sofreu alterações
Quanto ao seu papel, o setor elétrico se confronta com
um panorama em que seus limites de escopo se expandi- priorização de soluções com maior grau de maturidade e a
indução e o fomento da inovação tecnológica. Nesse pano
ram, não sendo mais válida a abordagem linear clássica das
atividades de geração, transmissão e distribuição. Assim, de fundo, em agosto de 2017, deu-se a primeira reunião
o programa de P&D é desafiado a refletir as interfaces e da Rise provocada pela Aneel, no âmbito do Congresso de
interações com outros setores industriais e econômicos Inovação Tecnológica em Energia Elétrica (Citenel) e do
que também podem contribuir nas respostas aos desafios Seminário de Eficiência Energética do Setor Elétrico (See-
e gargalos presentes. Um conjunto novo de atores se faz nel), com o tema Inovação e Integração: Respostas Locais
presente e impele à conexão e colaboração, a fim de acelerar a Barreiras Globais, tendo o ímpeto de unir os atores do
o processo de desenvolvimento, mitigar riscos e aumentar
setor elétrico com os atores da indústria de bens e serviços,
a robustez das soluções propostas. Nesse aspecto, a mobi- universidades, ICTs e startups. A Rise, por conceito, se po-
lidade elétrica, que poderia ser tratada genuinamente no sicionou como um ambiente de discussão de projetos em
campo do transporte, provoca o setor elétrico a sentar-se rede, com atores colaborativamente unidos em torno de um
na mesma mesa que o setor automotivo, de energia e de resultado concreto com valor agregado à sociedade.
serviços.
Assim, num contexto em que uma maior velocidade de 1.2. Chamada de Projeto de P&D Estratégi-
resposta se faz necessária, com transformações tecnológicas co n. 022/2018
e de perfil do consumidor – agora “prosumidor” – e um A conjuntura criada pela primeira reunião da Rise em 2017
ecossistema multissetorial e de multiatores, torna-se im- trouxe os elementos necessários para trilhar esta nova con-
perativa a sistematização e a implementação do ambiente cepção do programa de P&D da Aneel, que, mais que agre-
de inovação, capaz de gerar valor tangível dos resultados gar o “I” na sigla P&D, cristalizou um novo conceito de go-
da Pesquisa e Desenvolvimento à sociedade. Um exemplo vernança dos projetos, com suas interfaces e conexões. Com
consoante de instrumento facilitador para se atingir este esse espírito, lançou-se em 2018 a Chamada de Projeto de
outubro/novembro/dezembro 19