Page 23 - Revista EAA - Edição 99
P. 23

(Oica), esta última agrupando construtores. Em minha pes-
           quisa, verifiquei que a maior parte dos artigos jurídicos inter-
           nacionais utilizam a classificação em seis níveis da SAE ou,
           como alguns preferem, cinco níveis de automatização além
           do nível zero, de condução manual sem assistência.
             No Brasil, foi adotada, por meio do Decreto N°
           9.557/2018 (art. 18, § 4), a norma J3016. No entanto, con-
           siderando que a referida norma não possui versão oficial na
           língua pátria, problemas de compreensão podem dificultar
           as autorizações de circulação de protótipos em vias públi-
           cas. Na França, os níveis de automatização, em número de
           três, são encontrados no artigo R.311-1, 8, do Código de
           Trânsito, de forma que tais veículos já foram incorporados
           no arcabouço legal daquele país.
             Uma característica que separa o mundo jurídico do   Figura 1 - Imagem de E.P. Martinesco (2022)
           mundo tecnológico é o momento em que fazemos o “U
           Turn”, quando entendemos que o progresso tecnológico
           é tal que pode ser chamado de disruptivo, impactando os
           regimes de responsabilidade. Do ponto de vista jurídico,
           o ponto crucial reside no princípio do controle dinâmico
           do veículo (art. 1°, ac, C. Viena, 1968), anteriormente con-
           siderado como tarefa exclusiva do condutor, que é agora
           relativizado para que haja harmonização entre os avanços
           tecnológicos e o direito.
             Com a emenda de 2016 à Convenção sobre Trânsito
           Viário (Viena, 1968), o conceito de controle passou de
           “controle constante” para um “controle a qualquer momen-
           to”, ou seja, quando o sistema de condução automatizada
           solicita ao condutor que recupere o controle dinâmico do
           veículo, notadamente no nível 3. Isso porque nos níveis su-
           periores de automatização (SAE4 e SAE5), não há expec-
           tativa de recuperação do controle pelo condutor; é o siste-
           ma que coloca veículo e passageiros em segurança quando
           detecta uma situação de emergência. Nestes dois últimos
           níveis  de  automatização,  as  condições  de  competência  e
           aptidão à tarefa de condução de um veículo, exigidas dos                                              FOTOS: ARQUIVO PESSOAL
           motoristas pelo Código de Trânsito Brasileiro (art. 147),
           não seriam mais necessárias.
             A imagem (figura 1) mostra que o papel do condutor
                                                               Figura 2 - Demonstração de navette autonome
           e do sistema de condução automatizada evolui de acordo
                                                               Navya em La Défense, Paris, 2016
           com o grau de automatização.
           O condutor para fins legais

           Quando falamos de sistemas de condução automatizada, o
           raciocínio jurídico é invertido. As definições técnicas dos
           níveis de automatização e dos cenários de uso baseiam-se
           essencialmente no não desempenho do sistema. A figura 1
           mostra que, no nível 3, o sistema de condução automati-
           zada não executa a tarefa de controle dinâmico do veículo
           em caso de emergência, cabendo ao condutor, em modo

           julho/agosto/setembro                                                                            23
   18   19   20   21   22   23   24   25   26   27   28