Page 35 - Revista EAA - Edição 102
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O Brasil tem
particularidades que se
destacam na transição
para a economia
de baixo carbono.
Temos uma vocação
natural para a logística
marítima, com seu
extenso litoral e rios
e lagos navegáveis,
além de sermos um
grande produtor de
biocombustíveis
bustível no Brasil, com produção atual estimada em 55% da dade do produto, tornando-o adequado às mais modernas
capacidade instalada, indica a possibilidade de absorção de tecnologias de motores.
novos volumes nos próximos anos. No Brasil, há oferta pontual do produto a partir da Pe-
De acordo com a fabricante de motores Caterpillar, os trobras (refinaria de Araucária), misturado diretamente ao
motores principais das embarcações da frota da WS podem diesel fóssil nas proporções de 5% e 10%. A empresa já anun-
receber misturas com até 30% de biodiesel, sem necessidade ciou que estenderá a produção de HVO para as unidades de
de adaptações significativas. Esta perspectiva permitiria uma Paulínia (SP), Duque de Caxias (RJ) e Mauá (SP), além da
redução importante nas emissões, com abrangência para construção de uma unidade dedicada de produção de HVO
praticamente todos os portos onde a WS opera. Pode ser em Cubatão (SP), totalizando a oferta de mais de 10 bilhões
utilizada tanto em embarcações existentes quanto nas no- de litros/ano até 2027. Há ainda o anúncio de outros fabri-
vas construções. A mistura de diesel e biodiesel é uma alter- cantes, como a Refinaria de Mataripe (BA), prevendo a pro-
nativa economicamente viável, adaptável e disponível. Sua dução de 1 bilhão de litros/ano.
aplicação em larga escala depende de alterações nas políticas Os desafios apresentados pelas mudanças climáticas ao
públicas atuais, tendo em vista que a mistura não abrange os setor marítimo são complexos e multifacetados, exigindo
combustíveis marítimos. uma abordagem integrada que combine inovação tecno-
lógica, colaboração entre setores e apoio regulatório. No
Biodiesel HVO entanto, as oportunidades são igualmente substanciais. Ao
A exemplo do biodiesel Fame, o óleo vegetal hidrotratado adotar novas tecnologias, melhorar a eficiência operacional
(HVO, na sigla em inglês) também é produzido a partir e trabalhar em conjunto com diversos stakeholders, o setor
de biomassa, mas em um processo diferente, conferindo ao marítimo pode não apenas reduzir seu impacto ambiental,
combustível características que permitem ser classificado mas também liderar a transição para uma economia global
como drop-in (que pode ser utilizado em qualquer proporção mais sustentável. A evolução do setor marítimo em respos-
de mistura com diesel fóssil, ou até mesmo puro, sem neces- ta às mudanças climáticas será um teste vital de resiliência
sidade de adaptações). O HVO é o tipo de diesel verde ou e inovação, com implicações profundas para o futuro do
diesel renovável mais produzido no mundo, sendo o terceiro comércio global e do meio ambiente. n
mais consumido (atrás do etanol e do biodiesel) e aquele cuja
produção mais cresce no mundo (incluindo o etanol e o bio-
diesel nessa comparação). Esse crescimento é explicado pelo *João David Santos é engenheiro mecânico e mestre em Saúde e
menor custo do produto em relação às demais rotas, pelo Segurança Ocupacionais, gerente de sustentabilidade e executivo
maior desenvolvimento tecnológico e pela excelente quali- responsável pela agenda climática na Wilson Sons.
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