Page 36 - Revista EAA - Edição 102
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PORTOS DO FUTURO



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        ISTOCKPHOTOS  Um mar de




          oportunidades



          A cadeia de valor marítima, portuária e
          hidroviária como estratégia competitiva
          para o Brasil

          Anna Valle*





                 ssim como as grandes navegações descobriram a   dos países da OCDE. O custo médio de desembaraço no
                 América e o Brasil, revelando novos horizontes e   Brasil é de US$ 862, comparado à média de US$ 136 da
          Aoportunidades, a cadeia de valor marítima, por-   OCDE. Essas ineficiências impactam diretamente a com-
          tuária e hidroviária brasileira tem diante de si um vasto   petitividade do país, refletida na 60ª posição do Brasil no
          oceano de possibilidades. Impulsionada pelas transforma-  ranking de competitividade econômica global.
          ções tecnológicas, essa cadeia pode ser renovada através   No entanto, esses desafios são também oportunidades
          de inovação e tecnologia, convertendo desafios em opor-  para transformação através da inteligência logística e da
          tunidades para o Brasil.                           inovação, com tecnologias avançadas, processos bem defi-
            A logística, em essência, é a gestão eficiente de fluxos e   nidos e pessoas. A implementação de sistemas de gestão
          tempos. Melhorar esses dois aspectos pode revolucionar a   integrados e colaborativos, adicionados de tecnologias
          cadeia de valor, permitindo que produtos sejam movimen-  como a inteligência artificial, por exemplo, pode prever e
          tados de forma rápida e com menor custo, impactando di-  gerenciar picos de demanda, otimizando desde o tráfego
          retamente a competitividade das empresas e do país.   de embarcações e reduzindo significativamente o tempo de
            Para isso, a integração e a colaboração entre todos os   espera até a gestão integrada dos players para redução de
          atores da cadeia logística são fundamentais. Transportado-  estoques e melhor dimensionamento de linhas e células de
          ras, operadores portuários, órgãos reguladores e empresas   produção nas indústrias. Além disso, a automação dos pro-
          usuárias dos serviços logísticos devem trabalhar juntos para   cessos aduaneiros e operações repetitivas podem acelerar o
          otimizar processos e melhorar a eficiência. Um ambiente   desembaraço, reduzindo erros e custos operacionais.
          colaborativo facilita a troca de informações, a previsibilida-  Os elevados custos operacionais e logísticos no Brasil
          de das operações e a coordenação eficaz, reduzindo desper-  abrem um campo fértil para a aplicação de tecnologias que
          dícios e aumentando a eficiência.                  tragam eficiência e sustentabilidade. O monitoramento em
            Comparado à média da OCDE e dos EUA, o desempe-  tempo real, por exemplo, permite acompanhar condições
          nho dos portos brasileiros apresenta disparidades significa-  de carga e movimentação de embarcações em tempo real,
          tivas. Segundo a UNCTAD de 2021, o Brasil tem um tem-  facilitando a gestão proativa e a redução de atrasos e custos.
          po médio de espera de 5,5 dias para atracação, enquanto   Ou seja, o desempenho dos portos brasileiros, compara-
          nos EUA o tempo é de apenas dois dias. De acordo com o   do aos padrões internacionais, revela um enorme potencial
          Banco Mundial em 2020, o Brasil leva em média 49 horas   de melhoria. Investir em infraestrutura tecnológica e ino-
          para desembaraço aduaneiro, contra 12,7 horas na média   vação pode transformar os portos brasileiros.
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