Page 7 - Revista EAA - Edição 102
P. 7
Globalização, Covid-19
e reformas portuárias
Entender esse processo é fundamental para ter clara compreensão
dos novos contextos, vetores e suas demandas e influenciar reformas
visando a inserir o Brasil no mercado internacional
Frederico Bussinger*
gráfico com séries históricas das últimas quatro Nos 15 primeiros anos (1975-90), as curvas evoluem
décadas que antecederam à Covid-19, concebido praticamente em paralelo. A partir daí, começam a se des-
O e atualizado pela Conferência das Nações Unidas colar, como se abrindo uma “boca de jacaré”: o PIB passa a
sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), é repro- crescer mais rápido que a indústria (um terço em 26 anos);
duzido em inúmeros documentos e publicações mundo o fluxo marítimo mais que o PIB (30%); e o comércio mun-
afora e já se tornou um clássico. Ele sistematiza: i) o Pro- dial mais que o fluxo marítimo (um terço): 70% mais que o
duto Interno Bruto (PIB) (GDP) mundial; ii) o índice de PIB e 2,26 vezes mais que a indústria.
produção industrial da Organização para a Cooperação e Muitos se referem à década de 1980, que antecedeu esse
o Desenvolvimento Econômico (OCDE); iii) o índice do descolamento, como a “Era Thatcher-Reagan”, um período
comercio mundial de mercadorias (US$); e iv) o índice do de muitas reformas e mudanças, mesmo além das frontei-
fluxo (físico) marítimo (em toneladas). ras de Reino Unido e Estados Unidos. Particularmente na
economia e comércio internacionais, nesse período, as pro-
fundas transformações nas estruturas produtivas e cadeias
de comércio marcaram um processo que ficou conhecido
como globalização, e a evolução das variáveis no gráfico da
UNCTAD o comprova. Nem mesmo o solavanco da crise
de 2008/09 modificou as trajetórias e os patamares.
O crescimento da movimentação de contêineres, não
indicado no gráfico, foi ainda mais acentuado. Antes desse
período, girava em torno de 20% da carga geral, e hoje é
superior a 80%. Isso sobre uma base várias vezes maior.
Dentre tantas reformas do período, a dos portos teve
grande impulso nos cinco continentes, seja por iniciativa
dos próprios governos locais, seja estimulada pelas agências
multilaterais, que acabaram por lhe dedicar setores, equi-
pes, eventos e publicações específicas. O Banco Mundial,
por exemplo, passou a editar um manual de reformas por-
tuárias, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) a
Sua grande contribuição é permitir, de uma visada, a desenvolver um amplo programa de capacitação e treina-
comparação da evolução dessas quatro variáveis que, em mento, o Plano de Desenvolvimento de Pessoas (PDP), e
conjunto, fornecem informações importantes sobre a eco- a European Sea Ports Organisation (Espo) a publicar um
nomia, a logística e a geopolítica mundial, em especial nes- guia de governança portuária, baseado em pesquisas perió-
se período de grandes transformações. dicas, todos disponíveis na web.
abril/maio/junho 7