Page 45 - Revista EAA - Edição 89
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PONTO DE VISTA


 As ferrovias

 e o agronegócio



 A integração ferroviária do Centro-Oeste
 ao mundo finalmente está acontecendo

 e 1850 a 1930 o Brasil construiu 30 mil quilômetros de estradas de ferro,
 cobrindo a região litorânea do País. Nesse período, seguimos o exem-
 Dplo de nações que investiam em ferrovias e hidrovias de longa distância,
 como Rússia, Índia, Canadá, Austrália e Estados Unidos. Lamentavelmente, to-
 mamos uma direção equivocada a partir dos anos 1930, ao privilegiar rodovias e
 caminhões em detrimento de soluções multimodais.
 Na década de 1970 fomos o berço da principal revolução agrícola do plane-
 ta, que combinou tecnologias inovadoras com empreendedorismo de agricultores
 que migraram para o Centro-Oeste. Mas a logística de transporte ferroviário não
 Marcos Sawaya Jank
 seguiu as novas fronteiras da agricultura, e continuou sendo majoritariamente lito-
 é professor sênior de agronegócio global do
 Insper. marcos.jank@insper.edu.br.  rânea e estruturalmente precária nas ligações rodoviárias de longa distância.
 Felizmente esse cenário começa a ser revertido, com as ferrovias chegando com
 força ao Centro-Oeste. A Rumo já carrega em Rondonópolis o volume equivalente a
 2 mil caminhões por dia na Malha Norte, que levam menos de 85 horas para descer
 até Santos, o principal porto agrícola do País. A companhia já opera trens de 120
 vagões, que retiram, cada um, 240 caminhões bitrem das estradas.
 Essa semana foi inaugurado o terminal de São Simão, operado pela Rumo e Cara-
 muru, a primeira integração ferroviária do estado de Goiás ao mar. A Ferrovia Norte-
 -Sul, operada pela VLI no trecho norte e pela Rumo no sul, estará 100% operacional
 “Se não houver   no segundo semestre de 2021, interligando os portos de Itaqui (MA) e Santos (SP).
 O próximo passo dessa revolução silenciosa é a chegada das ferrovias ao co-
 portos, ferrovias,   ração da produção de soja, milho e algodão do Mato Grosso. Três projetos estão   O caminho para
 hidrovias, tão   sendo analisados neste momento:
 necessários para   a)  A extensão de 680 quilômetros da Ferronorte entre Rondonópolis e Lucas do
 uma nação ser   Rio Verde, que será construída pela Rumo para movimentar cargas até o porto de   operações autônomas
 respeitada no   Santos, um investimento com 100% de recursos privados;
 mundo, nunca   b) As ferrovias de integração oeste-leste (Fico e Fiol), cujo primeiro trecho já come-
 seremos um   ça a ser construído pela Vale. Essas ferrovias podem, no futuro, chegar a Ilhéus,
 por meio de um projeto longe de ser viabilizado;
 grande país.”  c)  A Ferrogrão, que pretende cobrir quase mil quilômetros de Sinop (MT) até os portos   A Wabtec possui vasta experiência em desenvolvimento e
 do Arco do Norte, complementando a saída pela BR-163. É um projeto de alta com-  implantação de sistemas de controle de trens de carga e passageiros,
 Olacyr de Moraes  plexidade, cruza reservas naturais e comunidades do bioma amazônico, com um custo
 que pode ultrapassar R$ 20 bilhões, a ser arcado em parte pelo governo.  que entregam segurança, eficiência operacional, economia e
 A opção pelos modais ferroviário e hidroviário traz muitos benefícios para o País,
 se comparados à alternativa rodoviária de longa distância: redução de emissões de gases   qualidade. Estamos trilhando o caminho para operações mais
 do efeito estufa e de poluição atmosférica, maior eficiência energética, menor consumo   autônomas com soluções como o Trip Optimizer e o PTC 2.0.
 de diesel por quilômetro percorrido, maior segurança e redução de desgastes e acidentes
 nas estradas, gerando economia importante para a saúde pública e o meio ambiente.
 Três ferrovias levando grãos do Centro-Oeste para o norte, o leste e o sudeste
 do País constituem um novo paradigma de desenvolvimento para a agricultura
 brasileira. Cabe ao governo federal permitir que esses projetos ocorram e compi-
 tam entre si, sem discriminações regulatórias, proporcionando a redução de custos
 que os produtores rurais do Centro-Oeste esperam há mais de quatro décadas.  n
                                                                                       WabtecCorp.com
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