Page 20 - Revista EAA - Edição 60
P. 20
ENTREVISTA VILMAR FISTAROL
vez que a CNH Industrial fabrica de de máquinas agrícolas e de construção; secutivo de queda nessa classificação.
equipamentos de pequeno porte a veículos comerciais de carga e passagei- Entre os motivos apontados para essa
caminhões extrapesados, veículos ros; e motores, com presença importan- posição negativa estão a infraestrutura
blindados e algumas das maiores te em toda América Latina. defasada do País, que avança a ritmos
colheitadeiras do mercado (apenas Na CNH Industrial lido com vo- lentos; o complexo sistema regulatório
como exemplo)? lumes menores se comparados com brasileiro, que é uma caixa de surpresas
Fistarol - Temos uma equipe muito os de uma indústria automobilística, para um investidor estrangeiro; e os
grande dedicada ao desenvolvimento mas com uma operação muito com- atrasos da nossa legislação trabalhista.
da cadeia de fornecedores. Utilizamos plexa em toda a cadeia de valor. Como
toda a sinergia que conseguimos. Va- exemplo, basta citar que para fazer SAE - Como o senhor enxerga a
lorizamos também o diálogo com nos- uma única colheitadeira de grãos pre- chegada de novos contendores
sos fornecedores. Por isso, realizamos cisamos trabalhar com até 15 mil itens nos mercados em que a CNH
vários encontros com eles, nos quais diferentes na mesma máquina. Industrial atua?
abordamos temas como supply chain, Fistarol - A entrada de novos con-
produção, qualidade, entre outros. O SAE - De todos os mercados em que a tendores estimula a competitividade
objetivo é compartilhar perspectivas e CNH Industrial atua, qual apresenta o entre as empresas em benefício dos
pontos de vista, além de discutir temas panorama mais desafiador? consumidores. Isso movimenta, entre
importantes como a inovação. Fistarol - O mercado, de maneira geral, outros fatores, a economia, o merca-
Aqui, vale a máxima de pen- é muito desafiador e cada setor tem do e os portfólios das empresas. Em
sar global, mas agir localmente. obstáculos a serem superados. No Bra- condições isonômicas, competição é
Por isso, contamos sempre com o sil, se para equipamentos agrícolas já sempre saudável.
know-how e o apoio do nosso time somos um dos mercados mais impor-
mundial de Compras. tantes do mundo, para máquinas de SAE - O senhor acredita na
construção ainda estamos engatinhan- necessidade ou viabilidade de se
SAE - Como a sua experiência ajuda do. Precisamos melhorar muito o perfil implantar no Brasil um Inovar-
nessa gestão? do nosso consumo. Do ponto de vista Máquinas?
Fistarol - Antes de assumir a presi- produtivo, somos um país caro. Temos Fistarol - Sim, com toda a certeza. O
dência da CNH Industrial para a que superar as nossas deficiências e ser Inovar-Máquinas vai incentivar a pro-
América Latina, fui o responsável mais competitivos. Precisamos nos in- dução de máquinas no Brasil e estimu-
mundial pela área de Compras da tegrar mais com outros mercados. lar a utilização de autopeças e equipa-
Fiat Chrysler. Agora, toda essa mi- Um dado interessante, que de- mentos nacionais na fabricação. É o
nha experiência está sendo aplicada monstra a nossa falta de integração que precisamos para ampliar a compe-
na gestão da CNH Industrial, quase mundial e de competitividade interna- titividade do setor de máquinas agrí-
que de modo automático, mas com cional, é o que foi apresentado no novo colas e de construção. O programa foi
discussões construtivas com todas as índice de competitividade global do apresentado pela Anfavea, em outubro
nossas equipes locais e globais, in- Instituto Internacional de Desenvol- do ano passado, ao governo, por meio
cluindo os fornecedores. vimento de Gestão (IMD), uma das dos ministérios do Desenvolvimento,
principais escolas de administração do Indústria e Comércio Exterior e da Fa-
SAE - Qual a principal ou as principais mundo, com sede na Suíça. O estudo zenda. Segundo informações da Abi-
diferenças de trabalhar no mercado apontou que o Brasil ocupa somente maq (Associação Brasileira da Indús-
automobilístico e atuar no segmento a 54ª posição numa classificação de tria de Máquinas e Equipamentos), no
de bens de capital? 60 países analisados, ficando atrás de ano passado o ex-ministro do MDIC,
Fistarol - No meu caso, como ambas as nações com economias menores que Fernando Pimentel, havia ressaltado
companhias são multinacionais perten- a nossa, como Colômbia, Jordânia e a importância estratégica do setor de
centes ao mesmo grupo, as responsabili- África do Sul. máquinas e equipamentos para o País
dades são similares, embora a diferença Nesse estudo, constatou-se que o e reconheceu que era preciso criar um
dos negócios seja visível. Além disso, Brasil perdeu 16 posições entre 2010 programa parecido com o Inovar-Au-
mudei de papel e lidero uma companhia e 2014, sendo este o quarto ano con- to, da indústria automobilística, para o
20