Page 24 - Revista EAA - Edição 60
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MOBILIDADE
veriam buscar novas maneiras de par-
ticipação para a escolha dos projetos
prioritários, nos quais todas as pessoas,
Consumo de combustível planejamento urbano e possam rece-
como pedestres, ciclistas e usuários do
transporte público, sejam ouvidas no
ber os benefícios da maior parte dos
investimentos públicos.
O foco do planejamento urbano
não pode continuar sendo a promoção
da fluidez dos veículos particulares e
criação de zonas residenciais prote-
gidas pelos arredores das cidades. Por
isso, antes de definir qual sistema de
transporte público urbano preenche a
O uso do solo deve ser pensado Resultados de eficiência necessidade e, principalmente, a possi-
para promover o acesso a serviços nos energética (consumo de bilidade financeira de cada município,
próprios bairros, preferencialmente a combustível e energia): ônibus a busca por um novo modelo de cida-
pé ou de bicicleta, com o incentivo do híbrido em série (SHB); ônibus des para o futuro deveria ser debatida.
uso misto e serviços disponíveis em to- diesel de referência (RDB); Mesmo quando decidimos inves-
dos os bairros, diminuindo a demanda ônibus híbrido em paralelo tir no transporte público, qual seria
por viagens longas. Ações de restrição (PHB); ônibus elétrico puro (FEB). o modal ideal para cada cidade? Em
do estacionamento privado, com a São Paulo, 88% dos usuários do trans-
transformação do espaço viário hoje porte público passam pelo ônibus,
usado para esta finalidade em ciclovias e melhores calçadas, poderiam também contra 22% no metrô e 11% nos trens
incentivar mais viagens a pé ou de bicicleta. Além disso, maior integração entre (SPTRANS, 2013). Entretanto, nos
os planos de habitação e mobilidade parece estar, finalmente, ocorrendo em algu- últimos anos, os sistemas metroviários
mas cidades brasileiras, o que deverá propiciar um desenvolvimento urbano mais ainda detinham a maior parte dos in-
integrado e sustentável. vestimentos em expansão e melhorias
O novo plano diretor da capital de São Paulo, aprovado em junho de 2014, por parte de todos os níveis de gover-
também incorpora instrumentos amplamente utilizados nas cidades desenvol- no. Mesmo a Prefeitura da cidade, que
vidas, o que gera esperança de que esses novos paradigmas sejam incorporados tem competência legal para melhorar
pelos municípios brasileiros. Pensar os bairros como entes autossustentáveis será os ônibus, vinha investindo boa parte
o maior desafio do desenvolvimento urbano inteligente. Como criar comunida- dos seus escassos recursos nos siste-
des que ofereçam bens e serviços a sua população localmente? Como melhorar o mas metroviários.
espaço urbano para permitir que todos aproveitem o espaço público e as calçadas Do ponto de vista técnico, essa
como verdadeiros locais de socialização e interação entre as pessoas? realidade não parece fazer sentido. A
Outro aspecto aprovado na revisão do plano diretor de São Paulo se relaciona solução mais eficiente sob a perspec-
com a tentativa de aproximar o setor imobiliário dos grandes corredores de trans- tiva econômica e da justiça social seria
porte urbano. Nesses eixos, o poder público vai permitir maiores densidades, além focar todos os esforços na expansão
de racionalizar o número de garagens, ampliar o tamanho das calçadas, e estimu- das faixas de ônibus, na construção
lar o uso misto para que as pessoas consumam bens, serviços e possam trabalhar de corredores exclusivos (BRT) e em
próximas de suas casas. Essas inovações são muito bem-vindas. melhorias operacionais, visando o au-
mento de velocidade dos ônibus, bem
A eficiência do transporte e o modal certo para cidades como no aprimoramento da qualidade
Buscar uma gestão democrática do espaço viário urbano, com a escolha do modal destes. Atualmente, o foco da Prefeitu-
certo para a realidade financeira daquela cidade, será primordial para a compe- ra em priorizar os ônibus, com a cons-
titividade dos municípios em atrair e manter empregos. Por isso, as cidades de- trução de mais de 350 quilômetros de
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