Page 46 - Revista EAA - Edição 60
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AEROESPACIAL (CAPA)
Por parte da Saab, o compromisso
assumido com o setor aeroespacial bra-
sileiro inclui a opção de fabricar peças e
conjuntos do Gripen NG, bem como a
montagem final da aeronave no Brasil.
O conceito de manutenção foi desen-
volvido de modo a atender às exigências
e à capacidade da indústria brasileira e
da FAB, por meio do estabelecimen-
to de um centro de manutenção do
avião no País para garantir autonomia
nacional e uso extensivo da infraestru-
tura brasileira existente, assegurando
ronaves e assim por diante. De acordo O escolhido pela FAB, reduções de custos e comunalidade. O
com o Brigadeiro-do-Ar José Augusto elegante e letal programa de Transferência de Tecnolo-
Crepaldi Affonso, presidente da CO- gia garante 100% de envolvimento em
PAC, em entrevista à TV FAB, o con- desenvolvimentos futuros e maximi-
trato comercial envolve vários anexos e za a autonomia industrial do País, por
um deles é a questão do treinamento. Pilotos e técnicos irão à Suécia para receber meio da transferência de competências
o treinamento adequado, em solo, em simuladores e em voo, para assim poderem altamente avançadas e diferenciadas,
assumir o comando e operações das aeronaves quando elas chegarem. incluindo projeto, desenvolvimento
Os requisitos básicos envolviam alcance, radar, logística e transferência de tec- e integração de hardware, aviônicos,
nologia, perfazendo mais de 1.200 requisitos no total. Ainda, segundo a FAB, uma software e sistemas no Gripen NG e
equipe formada por pilotos e engenheiros avaliou cerca de 400 itens em diferentes transferência de avançadas tecnologias.
fases do voo do Gripen na versão D. Decolagem, taxiamento, voo de cruzeiro, des- Neste contexto torna-se inadequa-
cida, pouso e manobras, qualidades de pilotagem, características da aeronave e dos do reduzir a discussão unicamente à
sistemas constam da relação de muitos itens avaliados durante as provas. O mesmo questão bélica, uma vez que as tecno-
processo foi realizado com os concorrentes Rafale e F-18. Cada avião foi testado logias incorporadas, a exemplo de mui-
por uma equipe distinta. tos outros projetos de caráter militar,
Os resultados integram o relatório técnico que possui 121 volumes e mais de resultam em produtos e sistemas tam-
30 mil páginas no processo de concorrência realizado pela COPAC. Os sistemas bém para uso civil, alavancando inves-
de controle de voo e de aviônica são pontos importantes da aeronave. O primeiro timentos e gerando riqueza. O Parque
facilita o controle do avião durante o voo, e a aviônica, bastante desenvolvida e de Material Aeronáutico de São Paulo
integrada, possui vários sensores que apresentam todas as informações ao piloto, de (PAMA-SP), unidade do Sistema Lo-
forma direta. O tripé FCR (radares), FCS (computadores de voo) e HMI (inter- gístico da Força Aérea Brasileira (FAB),
face homem-máquina) deve formar um conjunto ideal. Esta tecnologia embarcada será responsável pelo gerenciamento de
permite que o raciocínio do piloto seja mais rápido e fácil durante o voo, cuja ve- projeto dos caças Gripen NG.
locidade pode chegar a 2.400 km/h, e em condições de combate, contexto em que Se, por um lado, houve demora na es-
surgem outras aeronaves e ameaças. colha do caça ideal, isto pode ter represen-
Desde a criação da FAB, durante a Segunda Guerra Mundial, sempre existiu a tado o fator que levou a uma nova solução.
visão de que ela só seria autônoma se houvesse por trás uma indústria aeronáutica A partir de agora começou a ser escrito
capaz de suportar suas demandas. A Estratégia Nacional de Defesa previa que o um novo capítulo na história da FAB, ao
projeto FX-2 criasse as bases para o desenvolvimento de um caça de quinta gera- optar por um caça de nova geração em
ção, de forma que todo o processo visasse garantir esta capacitação para a indústria um momento em que o País tem um
nacional, levando-a a absorver tecnologia de forma que pudesse reproduzi-la no parque industrial muito mais evoluído
futuro. Devido ao Gripen NG estar em desenvolvimento, foi uma boa oportuni- no setor aeroespacial e capaz de absorver,
dade para que equipes da FAB participassem do processo na nova versão. Cada desenvolver e exportar produtos com mo-
requisito passou por avaliação dos técnicos da FAB. derna tecnologia e alto valor agregado. n
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