Page 14 - Revista EAA - Edição 70
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TECNOLOGIA


                              Reduzindo atritos



                              Projeto Triboflex, liderado pela USP, adota o modelo de consórcio
                              colaborativo e vem facilitando a conciliação entre as demandas
                              das fabricantes e a capacidade de pesquisa acadêmica
                              Fabio Ometto



                              Um dos efeitos do aumento progressivo da po-  Universidade de São Paulo (Poli-USP), criado
                              tência específica de motores de combustão in-  em 1994, é um dos centros de excelência em tri-
                              terna, especialmente com a recente difusão do  bologia. Idealizado em 2012, quando da criação
                              conceito de downsizing, é a elevação da carga de  do Inovar-Auto (Programa de Incentivo à Ino-
                              atrito entre as partes móveis e suas superfícies de  vação Tecnológica e  Adensamento  da Cadeia
                              contato, ou seja, o maior carregamento tribológi-  Produtiva de Veículos Automotores), o projeto
                              co dos componentes internos. Cientificamente,  Triboflex tem como proposta aplicar conceitos
                              Tribologia – do grego tribo (esfregar, atritar) – é  de tribologia visando melhor entendimento dos
                              o estudo da dos fenômenos resultantes da in-  fenômenos de atrito e desgaste em motores flex.
                              teração entre duas superfícies em movimento   Com o apoio de modelagem, o estudo se
                              relativo, tais como o desgaste e o atrito.  concentra, especificamente, nas particularidades
                                No caso dos motores flexíveis em combustível  do efeito do etanol sobre dois tribossistemas dos
                              (flex), como os disponíveis no mercado brasilei-  motores: o sistema anel-lubrificante-cilindro e
                              ro, o uso de etanol traz outras demandas, não só  o sistema válvula-meio interfacial-sede de vál-
                              pela maior pressão de combustão, mas também  vula. As pesquisas do TriboFlex são financia-
                              pela alteração nas condições de atrito, causada  das pela Fapesp por meio do projeto “Desafios
                              pela possível contaminação e diluição do lubrifi-  tribológicos em motores flex-fuel” – Triboflex
                              cante, ou mesmo pelo ambiente mais corrosivo.  –, integrado aos programas Pesquisa em Bio-
                                Diante da perspectiva de que, em breve, tal-  energia (Bioen) e Pesquisa em Parceria para
                              vez o país que criou a política do Proálcool, 40  Inovação  Tecnológica (Pite) e pelas compa-
                              anos atrás, tivesse de importar tecnologia de  nhias participantes, que atualmente são FCA/
                              mercados mais adiantados em Pesquisa & De-  Fiat, MAHLE, Petrobras, Renault, VW e Tupy.
                              senvolvimento nesta área da tribologia, diversos  Além do LFS fazem parte também a Unicamp
                              grupos de estudos vêm sendo formados em todo  e a universidade Federal do ABC
                              o Brasil nos últimos anos, abrindo novas possi-  Paralelo  à  relevância  do  próprio  objeto  da
          Foto de uma         bilidades de colaboração entre as universidades  pesquisa, o Triboflex também assume um impor-
          das reuniões de     e a indústria automobilística nacional.  tante papel dentro do ambiente acadêmico por
          acompanhamento        Nesse contexto, o Laboratório de Fenômenos  ser um consórcio colaborativo, um modelo de
          do consórcio        de Superfície (LFS) da Escola Politécnica da  parceria em P&D entre as fabricantes e as uni-
                                                                       versidades praticamente ainda pouco praticado
                                                                       no Brasil – mas bastante difundido nos Estados
                                                                       Unidos e Europa, onde conta com programas
                                                                       tanto federais quanto envolvendo vários países.
                                                                          Conforme explica o Dr. Eduardo Tomanik,
                                                                       Consultor Técnico em P&D de Tecnologia de
                                                                       Produto da MAHLE Metal Leve, mas tam-
                                                                       bém post-doc na USP, o caráter de um consór-
                                                                       cio colaborativo baseia-se na identificação dos
                                                                       interesses comuns ou complementares como a  FOTOS DIVULGAÇÃO
                                                                       parte mais importante na formação do grupo,
                                                                       seguidos pela definição de um estudo focado
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