Page 10 - Revista EAA - Edição 89
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FERROVIA TECNOLOGIA
ISTOCKPHOTOS de investimentos, deve se assentar em seis vetores principais: como a rede física onde parâmetros de eficiência são utiliza-
O Sistema de Transportes (T): geralmente caracterizado
– A racionalização da atividade logística nas diversas regi-
ões, com ordenamento do território a partir dos potenciais de
racional (ferrovias), capacidade de movimentação e operação
produção e consumo; dos, tais como: nível de serviço (rodovias), capacidade ope-
– O fomento à multimodalidade, com o aproveitando má- (aeroportos), calados e capacidade de movimentações (portos
ximo das vantagens de cada modal de transporte; e hidrovias) etc.
– A promoção de ganhos socioambientais, com a utiliza- O Sistema de Atividades (A): geralmente caracterizado
ção das vantagens microrregionais e com redução dos impac- pelas tipologias de demanda em que variáveis envolvem: tipo
tos na emissão de poluentes; de carga, propósitos de viagem, conexões logísticas etc.
– A busca permanente do desenvolvimento econômico re- A Circulação (C): geralmente caracterizada pela dinâmica
gional, com geração de empregos e de criação de riqueza; das movimentações que envolve fenômenos como movimen-
– A movimentação de pessoas em sistemas de transportes tos pendulares e picos de demanda (mobilidade urbana), sazo-
eficientes, inteligentes e inovadores com capacidade de se in- nalidades (escoamento de safras), fracionamento e consolida-
tegrarem à dinâmica de formação de valor para os indivíduos; ção de cargas (logística integrada) etc.
– E o aumento da competitividade das empresas e das re- É exatamente pela ausência de profundidade no plane-
giões, onde o transporte sai de uma condição periférica para se jamento estratégico que algumas iniciativas fora do âmbito
constituir em elemento fundamental de manutenção da com- governamental são imediatamente repudiadas, pois são inter-
petitividade sustentada. pretadas como ambientes de concorrência ao planejamento
Nesse contexto, os planos estratégicos precisam estar com- inerente ao poder público. Um atraso na cultura das relações
preendidos no âmbito de três conjuntos básicos: os sistemas de entre instituições. Mas, apesar disso, a Fundação Dom Cabral
transportes e de atividades econômicas e a circulação dentro concebeu e operacionalizou, com o apoio de parceiros da ini-
do complexo de transportes. De maneira geral, esses conjuntos ciativa privada, a Plataforma de Infraestrutura de Logística de
básicos devem se materializar de forma integrada e com todas Transportes (Pilt). A Pilt é, acima de tudo, um centro avança-
as características de suprimento e de escoamento moldadas do de estudos que coloca a demanda e sua projeção de longo
Transportes: os Estados Unidos e no Canadá, onde a infraestrutu- para que o transporte e suas redes multimodais não se cons- prazo como a principal variável de suas modelagens. As ca-
tituam em fator negativo que contribua para a redução nos
racterísticas dos projetos que poderão responder às demandas,
infraestrutura Nequilíbrio de custos, a implantação de projetos é domi- níveis de serviço e da competitividade do País e de suas regiões assim como sua governança e estruturação, não fazem parte do
ra de transportes possui níveis de alta produtividade e
escopo da plataforma.
(figura a seguir).
e planejamento nada historicamente pela regra conhecida como “60x40”. Essa Sistema Triangular de Conjuntos interpretações errôneas sobre possíveis papéis concorrenciais,
A Pilt FDC tem algumas características que a isolam de
relação caracteriza a divisão do cronograma de uma intervenção
estrutural, que é aquela capaz de modificar a dinâmica de um Básicos da Logística de Transportes tais como: centro de estudos avançados em infraestrutura de
sistema vigente, com 60% do tempo dedicados ao planejamento logística de transportes inserido em uma instituição de re-
O Brasil é o único país entre as 20 e 40% à execução. Na Europa, essa parcela é ainda maior, e no ferência em gestão e apoiado em ferramentas dinâmicas de
principais economias que não está Japão ela chega a 70% e 30%, respectivamente. Sistemas de big data e network analytics, e geographic information systems
entre as 50 na relação investimentos/ No Brasil não se pode falar em tempo de planejar, pois, em transportes para diagnóstico, simulações e cenários em uma abordagem
PIB e ritmo quantitativo de obras. geral, o próprio conceito é frágil. As obras são quase sempre T multimodal e de longo prazo; atuando como laboratório de
Precisamos de um planejamento definidas por interesses imediatistas e, muitas vezes, resolvidas III estudos tecnicamente focados para qualificar o debate entre
de longo prazo que privilegie a em salões cujo acesso é permitido somente a uns poucos privile- investidores e o poder público, assim como servir de fonte de
integração de eixos econômicos giados e donos do poder. O mais paradoxal é que somos o único Circulação simulações para apoiar a tomada de decisões em infraestrutura
e priorize os investimentos país entre as 20 principais economias que não está nem entre as II de transportes por instituições e agentes qualificados e institu-
50 na relação investimentos/PIB e ritmo quantitativo de obras. C cionalmente designados para tal fim.
A afirmação de que não se tem, no nosso País, um plane- Através de iniciativas como essas, espera-se que o Brasil
Paulo Resende* jamento de longo prazo em infraestrutura de transportes já I consolide seu planejamento de longo prazo, dentro de parâ-
se transformou em clichê, portanto sujeito à desconsideração metros e referências que possam realmente comprovar que o
imediata das autoridades. Para se evitar o lugar comum, é pre- Sistemas de que temos historicamente não passa de intervenções de inte-
Atividades
ciso qualificar essa ausência. E quando aqui se faz tal afirma- resses diversos, exceto os da sociedade brasileira. n
A
ção, explica-se tecnicamente.
Um planejamento de longo prazo, com características in-
tegradoras de eixos econômicos, e a consequente priorização Fonte: Paulo Resende (2020) *Paulo Resende, PhD Coordenador da PILT FDC
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